30 de novembro de 2010

A Covardia

É surpreendente quando paramos para pensar nas consequências das atitudes das pessoas, ou, mais especificamente neste post, na falta delas. E por que uma pessoa deixa de ter determinada atitude? Entre tantos motivos, por absoluta covardia ou omissão. Omissões podem ser encaradas como covardia, dependendo do caso, é claro.
Venho analisando em como nos sentimos diante de atos omissos de pessoas que conhecemos e de quem esperávamos franqueza suficiente para nos trazer a tranquilidade de uma relação. Qualquer relação. Todos gostamos de confiar em alguém, seja em nosso namorado, amigo, parente ou colega de trabalho. Até em nosso patrão.
Mas o que fazer quando esse alguém se esconde, quando ele deixa de nos dizer aquilo que esperamos que ele diga? E quando, justamente, aquilo que precisamos ouvir é fundamental para que possamos continuar considerando-o como uma pessoa presente em nossa vida?
Alguém que tenha se tornado importante para nós merece prevalecer ao nosso lado.
Mas e se esse alguém desaparece de repente? Você sabe que a pessoa está bem, viva, saudável, mas se nega a responder nossos e-mails ou telefonemas, e isso assim, do dia pra noite.
Tentamos desesperadamente lembrar um possível motivo para isso, e quanto mais tentamos, mais entramos no labirinto das suposições, sem conseguir nada. Aí vem a paranóia: será que eu bebi demais e fiz alguma besteira na última vez em que estive com a criatura? Meu Deus, será uma amnésia alcólica, daquelas que nos fazem esquecer de como chegamos em casa? O desespero passa para a tristeza, que evolui para a raiva - ligamos o "foda-se, então", porque é muito ruim quando alguém deixa de falar conosco dessa forma.
Já escrevi aqui que magoamos os outros até sem querer, mas isso pode ser perfeitamente revertido quando existe franqueza. Daquele que foi magoado e teve a coragem de chamar à atenção, como do que magoou, para reconhecer seu erro. E essa é a via de mão dupla que eu conheço para todos os tipos de relação que um ser humano pode viver. A relação com o namorado, o amigo, o parente e o patrão. Acho-a necessária até entre desconhecidos.
Infelizmente, só posso considerar que esse "desaparecimento" é fruto do que citei lá em cima. A omissão gerada pela falta da franqueza em nos dizer o que fizemos de errado, e por que estamos sendo punidos, descartados de um baralho que poderia fazer muitos jogos.
É uma atitude cruel e covarde, porque nos priva de alguém a quem queremos bem, e nos deixa numa cadeia de dúvidas sem nenhuma chave por perto. Tremenda injustiça.
Mas, apesar dã tolice dessas pessoas, a vida segue, e eu sei que vamos cruzar ainda muitas vezes com esses avestruzes. Temos que encarar isso como se estivéssemos passeando num safari, vendo-os todos enfiando suas cabeças em buracos no chão.

25 de novembro de 2010

Tempos de guerra

Faz muito tempo que não escrevo nada. Fiquei cansada, sei lá, faltava inspiração apesar dos assuntos não pararem de fluir durante esse tempo todo. Mas de uns dias pra cá eu vinha amadurecendo minhas idéias e a vontade de escrever veio retornando aos pouquinhos.
Hoje, especificamente, há algo para se falar, o caos em que a cidade está. Não tenho muito saco para assistir pela TV a incursão dos policiais na Vila Cruzeiro, nem gosto de ver os ônibus e carros incendiados pelas ruas. O fato é que fui dispensada do trabalho na hora do almoço, amigos meus também, e ninguém quer mais sair de casa.
Instigante, essa postura do medo. Medo do que pode acontecer se você por o pé na rua.
Penso nas pessoas que tiveram que sair por algum motivo urgente, e mesmo aquelas que não foram dispensadas de seus trabalhos, diante da iminência de um monte de loucos com garrafas de gasolina ou querosene prestes a destruir seu meio de transporte. Penso nos engarrafamentos causados por esses atos e pelas blitz que tomaram conta das ruas. Eu mesma, quando voltava para casa, peguei umas duas ´pelo caminho.
Daí, vêm os boatos. Hoje é quinta feira, e já se comenta que no sábado haverá um ataque em massa, dos bandidos. Fiquei triste, será a véspera do meu aniversário e já teve gente que, por conta desses acontecimentos, disse que talvez não compareça na festa de domingo.
Sempre imaginei como seria a festa de algum americano que faz aniversário no dia 11 de setembro. Um dia fúnebre, com certeza, e com mais certeza ainda, não gostaria que no meu dia 28 ocorresse algo dessa natureza. Mas, pelo andar da carruagem, as coisas por aqui podem muito bem evoluir para uma tragédia maior.
Mesmo assim, eu gosto de ser otimista, com todo o cuidado de não perder o foco na realidade. E também não gosto de assumir a postura da raiva e da violência, coisa que a maioria das pessoas vêm mostrando a muito tempo. Prova disso é quando escuto alguém comentar sobre o que a TV mostrou mais cedo: dezenas de traficantes fugindo da polícia, correndo por uma estrada que leva a Vila Cruzeiro ao morro do Alemão. E o comentário era de perplexidade, visto que nenhum policial os perseguiu e nenhum helicópttero sobrevoou o local atirando e matando a todos.
Confesso que quando vi a cena dos caras correndo, pensei no porquê da polícia não estar atrás deles, mas em momento algum imaginei um assassinato em massa.
Uma amiga explicou que aquilo foi uma tática de guerrilha, que a idéia era encurralar todos em algum lugar, mas depois pensei que o Complexo do Alemão é enorme, será muito mais difícil encontrar esses fugitivos por lá. Entretanto, tudo faz parte de um plano, pois o Governador disse que até dezembro o Alemão vai ser invadido pela polícia... Que seja, e será mais confusão, certamente.
Voltando à história da violência revanchista, não concordo em matar todo mundo, como não concordo com pena de morte. Se o tal helicóptero sobrevoasse aquele local e atirasse nos bandidos que por ela corriam, não seriam os policiais assassinos e igualmente bandidos? Então, para que uma polícia? Diante desse meu comentário fui julgada como uma daquelas pessoas que apóiam os direitos humanos dos marginais. Sei lá se sou assim, nunca pensei profundamente em nada disso. Só sei que não compro essa idéia do olho por olho, dente por dente e já li algo a respeito, todos ficariam cegos e banguelas.
Portanto, deixo a guerra para quem quiser estar nela, eu tô fora.

19 de agosto de 2010

O menino e o colírio

De volta à clínica oftalmológica para descobrir se, finalmente, precisaria de uma segunda cirurgia de correção de grau, enquanto aguardava ser chamada observei uma cena bastante curiosa e que me fez refletir.
Estava eu, sentadinha na última das cinco fileiras de poltronas na sala de espera e junto a outros pacientes. Uns de óculos, outros sem óculos e todos assistindo televisão. Havia uma sexta fileira de frente para a nossa, e a tal cena que nela aconteceu acabou disputando nossa atenção com a TV.
Um menino acompanhado da mãe e de sua avó, aguardava ali como os demais pelo exame que determinaria sua inclusão no grupo dos dependentes de óculos. Coisa chata para uma criança de oito anos ter que usar essas próteses visuais, que é como eu costumava chamar os meus, já que sem eles eu nada via.
Aos quinze anos eu já precisava usá-los, assim o oftalmologista recomendou à minha mãe, e naquela época e idade, claro que eu não estimava a importância daquele objeto que teimava em não permanecer na minha cara. Tanto que quebrei e perdi muitos, e portanto fiquei imaginando aquele menininho, bem mais novo, ter que lidar tão cedo com armação e lentes.
Ele precisava pingar um colírio para fazer o exame, e esse foi o problema. Ele não queria, e sendo assim, recusou-se radicalmente a aceitar as gotinhas nos olhos. A assistente parada de pé ao lado da poltrona, ele no colo da mãe, a avó suplicando para ele deixar, mas ele não deixava. O que começou com alguns nãos chorosos, evoluiu para um berreiro, tapas e golpes de perna na mãe, na avó e na assistente que deixou o frasco do colírio cair no chão.
Tudo lhe foi prometido se se deixasse usar a substância, tudo lhe foi pedido, implorado, mas ele não cedia. Sua mãe falava com calma, lhe acariciava e beijava, mas ele gritava que não, não e não.
- Por que, Rodrigo?
- Porque vai arder, mãe.
- Mas se você não pingar o colírio não vai poder fazer o exame!
- Todo mundo pinga, Rodrigo!
- Que se dane! Eu não quero!
Como convencer uma criança tão determinada? Não creio que ele imaginasse que iriam lhe arrancar os olhos, ele só não queria o colírio, somente isso. E a assitente, visivelmente sem mais paciência, pois aquilo já tinha lhe tomado uns trinta minutos, perguntou-lhe se teria que chamar outra pessoa para segurá-lo.
- Que vergonha, Rodrigo, com medo de umas gotinhas... Todo mundo aqui tá esperando por você, todo mundo já pingou, é a sua vez...
- Não quero nenhum colírio!
- Mas tem que pingar!
- Então eu deixo se fechar o olho...
- Tá, eu pingo e você abre o olho depois pro colírio entrar, combinado?
E lá se foi uma tentativa perdida, porque que o garoto não abriu os olhos.
A essa altura, todo mundo só prestava atenção no menino e sua luta corporal, e o que começou engraçado, já havia se tornado chato e irritante. Causou mal estar ver aquela criança chorar, gritar e espernear enquanto sua mãe parecia já ter desisitido de convencê-lo. Ela e a avó haviam assumido, então, o posto de observadoras, deixando todo o sacrifício para as funcionárias da clínica. A segunda assistente foi acionada, mas ninguém tampouco se comprometeu a obrigá-lo por meio da força.
A terceira tentativa radical foi ligar para o pai, coisa que a mãe disse quando pegou o celular. Mas só pegou, porque logo um pontapé infantil fez o aparelho cair bem longe. E diante de mais essa cena, ela voltou a sua poltrona e ali ficou olhando para uma e outra assistente, como se o filho não fosse mais dela, como se ele não fosse responsabilidade sua.
Aí apareceu a médica, bastante preocupada por ter que deixar seus outros pacientes esperando por causa daquilo. Ela foi até ele e disse num tom bem duro, que a escolha era pingar o colírio e fazer o exame ou ir embora. Ele queria fazer o exame, só não queria que pingassem nada nos seus olhos, e ela insistia que ele não tinha essa opção. Ou pingava ou ia embora. Ele gritou com ela e mais minutos se passavam.
Então uma outra assistente surgiu na minha frente para pingar em mim, já que eu também estava ali para isso. Não resisti e antes que ela abrisse minhas pálpebras, chamei o garoto.
- Ô, Rodrigo! Olha só como não dói! E deixei as gotinhas entrarem com ele me vendo, vermelho e cansado. Daí ele cedeu, porque toda resistência tem um fim. Os outros pacientes não chegaram a aplaudir, mas viraram-se para trás e me olharam com tanta gratidão que eu que eu não pude deixar de sorrir.
A reflexão a que eu me referi lá em cima? Foi sobre um menino manhoso e mal educado e a absoluta falta de autoridade de seus responsáveis ali. Uma criança que teve medo que chamassem seu pai, mas não teve medo de agredir as funcionárias da clínica, a médica, a avó e a própria mãe, coincidentemente, todas mulheres. Fiquei pensando que, se com oito anos ele era assim, como seria quando se tornasse um homem?

16 de agosto de 2010

A emoção do conhecimento

Quando escuto pessoas dizerem que quando estão "mal"e preferem ficar em casa a sair para se divertir, me sinto tentada a aconsellhar que NÃO o façam. Que saiam de casa e até de si mesmas, que abram espaço para outras coisas que não façam parte do "mal" que as aflige e que pode ser uma trizteza, frustração ou uma simples decepção com a qual não souberam lidar.
Algumas dão a desculpa da velha dor de cabeça para ficarem sós e não se envolver na aventura da saída, e a menos que essa dor de cabeça seja uma tremenda enxaqueca patológica, não há nenhuma outra que uma boa neosaldina ou dipirona não resolva.
Eu nunca me arrependi de ter deixado minhas infelicidades passageiras (pois todas sempre passam) em casa e decidido ir pra rua, pra balada, pros encontros e eventos da vida. Tenho a sorte de lidar bem com isso, e de ter sempre pessoas ao meu lado que curam ou pelo menos amenizam meus males.
Um terapeuta pode ajudar a resolver muitos problemas, eu mesma já precisei de uma para as fases mais complicadas da minha existência, porém eles nem sempre podem estar presentes. E é aí que temos que ter a coragem de abrir espaço para nós mesmos, e encontrar internamente os poderes (que todos temos) e aciona-los a nosso favor. É algo quase que mágico, pelo menos pra mim, e praticamente instantâneo. Me é impossível chegar numa festa, cinema, teatro ou o que quer que seja de cabeça baixa e permanecer assim por muito tempo. É como se minha alma ou espírito (também seja lá o que for), recarregue uma bateria e pronto, a vida volta ao normal e aquele nó dentro do peito se torna um pequeno registro, fútil, de algo ruim que aconteceu e que de repente se torna tão distante.
Acredito que algo assim pode acontecer a qualquer um, e o mais interessante nisso, é a permissividade à companhia que nos cerca, e como nossas atenções se voltam pra ela.
Talvez essa seja a chave do mistério: as companhias, as pessoas que nos querem bem e mesmo que não o demonstrem com frequência, naquele momento particularmente difícil elas vêm para interagir, como se jogassem uma corda pra tirar a gente do buraco. E muitas vezes, elas nem sabem que estamos num buraco.
Claro que já me resolvi sozinha, já andei solitária pela praia, já meditei, já parei pra ver o por do sol e me tranquilizei com essas alternativas. Mas a minha essência precisa da interatividade com o próximo. Gosto de falar e gosto de ouvir, não necessariamente nessa ordem, e isso também não quer dizer que tenha problemas com a solidão, pelo contrário.
Mas é nos momentos mais chatos que eu me permito admitir a presença dos queridos, dos que eu admiro e me deixam à vontade. Numa postagem mais antiga, escrevi que "a amizade alimenta-se da comunicação", e essa frase de um antigo pensador me esclareceu muita coisa. Se as pessoas à nossa volta com quem temos afinidades, claro, estão alegres, ficamos também, pois a alegria é contagiosa. Se nos alegramos, atraímos mais pessoas alegres e isso vira uma bola de neve, como aquela história da tal atração das partículas de átomos, elétrons ou prótons que vão se acelerando, colidindo e acabam numa fusão, gerando algo maior e mais complexo. Meio doida essa minha comparação, mas muitos teóricos não falam que isso seria uma explicação científica para o amor? Para os esotéricos, também não existe a tal Lei da atração? Acredito em formas diferentes de se referir à mesma coisa.
E é por isso que eu penso que devemos sim, nos permitir ao máximo em determinadas situações. Quando a gente abre espaço e se incorpora à felicidade que rola em um determinado ambiente, acabamos nos permitindo à nossa prórpia felicidade. E isso até pode atingir o clímax com a recompensa de conhecer alguém que torne aquele momento da nossa vida mais interessante ainda. Pode ser um simples bate papo de uma noite apenas, pode ser alguém que venha a fazer parte de nosso círculo de amigos e que nos traga mais bons momentos e até, porque não, um grande amor. Ces't la vie...

2 de agosto de 2010

Quem sabe ler e escrever?

Juro que eu fico constrangida quando percebo que alguém não sabe ler perfeitamente. Não estou falando dos analfabetos, falo de gente que está estudando, está na faculdade e até no mercado de trabalho. Me assombra igualmente ver os textos que meus clientes, por exemplo, me enviam para que eu os coloque em seus sites. Erros de ortografia ou gramática, da pontuação à concordância, coisas sem sentido que eu fico desesperada e profundamente aborrecida de ter que consertar. Incrível que esse povo todo ainda consiga se comunicar!
Entretanto, esses errinhos aparentemente inocentes, acabam por causar de uma forma ou e outra, as terríveis falhas de comunicação, algo que tenho visto com frequência no trabalho, pelo menos. A ficha de um produto com uma concordância de número errada, causa dúvidas. E quem a lê, por não saber também interpretar, comete aquele equívoco que depois pode ser descontado do seu salário.
Parece bobagem, mas numa época em que temos à nossa disposição inúmeras fontes de leitura, é absolutamente surreal que algumas pessoas ainda cometam erros de português.
Outro dia, uma colega estava lendo um pequeno texto na internet, e sei que tem muita coisa errada também na web, mas nesse caso, a questão foi outra. Essa colega mostrou tremenda insegurança em ler em voz alta, ainda que não houvesse nenhuma platéia, apenas nós duas na sala. Ela não conseguia interpretar o que estava lendo, tropeçava nas palavras e aboliu definitivamente a pontuação. Depois, levou alguns segundos para entender o que tinha lido, o que chegou a me causar pena.
Eu insisto tanto na educação, e não é somente na educação escolar. Um livro é uma fonte de conhecimento, e por mais que seja tolo, pelo menos ali se pode conhecer palavras e a forma certa de escrevê-las. E essa falta de leitura generalizada acaba desenvolvendo uma geração de vocabulário cada vez mais pobre.
Encontro jovens que escrevem como se escreve na internet, isso é fato e já vem sendo discutido de montão, por aí. O grande problema, além dessa falta de vocabulário, é que justamente e também por isso, vejo que a postura dessas pessoas anda cada vez pior. O saber lidar com o outro tornou-se um diferencial para poucos, geralmente os mais velhos e cultos, e que por não ser compreendido, acaba sendo discriminado.
No dia em que as pessoas entenderem que não é preciso ter dinheiro para se saber ler e escrever bem, veremos gente mais elegante e educada. As pessoas saberão lutar por seus direitos e não mais serão tão exploradas no mercado de trabalho, porque sei que tem empregador que desvaloriza o funcionário que fala errado, mesmo ele sendo bom naquilo que faz. Quando você sabe falar exatamente o que quer dizer, de forma clara e bjetiva, você tem argumentos fortíssimos para mandar bem seu recado.
Em suma: a comunicação existe para que sejamos respeitados, portanto, devemos respeitá-la também.

15 de julho de 2010

A obrigação do carinho

Hoje eu quis escrever para uma pessoa muito querida e especial, a Marguerita. É um tipo de "recadinho", um esclarecimento sobre um pequeno mal entendido que rolou entre a gente, mas rola o tempo todo entre as pessoas e a maioria não se dá conta disso.
Sei que estou falando por mim e uns poucos amigos que pensam como eu, mas de tanto pensar nesse fato, já não tão isolado, resolvi postar por aqui.
A história começou quando combinamos de sair num domingo pra almoçar. Ela ficou de ligar pra marcar a hora de passar e me pegar. Na minha cabeça ficou claro isso, portanto, aguardei. Mas ela não ligou. O domingo começou, entrou pela tarde e à noite, imaginei que ela tivera outros compromissos. Normal, nem ligo tanto quando alguém marca alguma coisa comigo e fura. Mas se a pessoa não avisa, não desmarca, a gente não pode nem se articular pra reverter a situação, e isso é muito chato, principalmente se a gente já havia se programado pra tal compromisso. Às vezes, deixamos de fazer outras coisas, e aí não fazemos nem uma nem outra.
Claro que não fiquei chateada por não sair pra almoçar, já levei furos bem mais dramáticos. Mas o que eu queria dizer aqui, é que a gente tem que se responsabilizar por nossas escolhas, principalmente quando elas envolvem aqueles que nos querem bem.
Não foi a toa que eu adotei a frase de Saint-Exupéry, do Pequeno Príncipe: "tu te tornas responsável por aquilo que cativas".
Essa coisa de ligar pra avisar que não vamos encontrar alguém, é uma questão de delicadeza. É bom ser gentil com os amigos, dando uma satisfação do que não vamos mais fazer. Nossos planos mudaram, portanto, devemos avisar aos que contavam conosco, mesmo pra tomar um simples chopinho no pé sujo. Não sabemos o quanto aquela pessoa quer a nossa companhia, o quanto ela precisa conversar ou o quanto ela tem pra nos dar.
Isso não é uma reclamação com a Marguerita, até porque ela também ficou me esperando ligar e eu, simplesmente, não liguei. Estou falando de uma forma geral, pois vejo isso o tempo todo, gerando desencontros que, de tão reincidentes, acabam por danificar sentimentos.
Conheço gente que promete te buscar depois de uma cirurgia e não aparece, sem dar a menor satisfação. E ainda por cima, é incapaz de te ligar depois, ao menos pra saber se você está bem. Tem os menos traumáticos, aqueles que te convidam pro aniversário deles por e-mail. Não cogitam a possibilidade de você estar sem internet e não receber a mensagem, depois podem até reclamar da sua ausência na festa. Tudo bem, devemos lembrar a data de aniversário de todo mundo que a gente conhece...
Também têm os que omitem mudanças, aqueles que já tinham outro compromisso e não te avisam. Você os encontra mas o evento antes programado agora é outro, e você vai com eles sem saber pra onde está indo.
Deixar alguém na mão é admissível, todo mundo erra. Mas se comprometer em liberar o outro quando sabemos que vamos deixá-lo, acho uma obrigação. De amizadae, de carinho, consideração ou bem querer, tanto faz. Só sei que é legal quando a gente se sente lembrado por alguém, e essa simples atitude faz a diferença. Sabemos que aquela pessoa que nos avisou, desmarcando mesmo na última hora, tem um certo respeito por nós, e isso tem a ver com a tal gentileza que tanto faz falta nas pessoas nos dias de hoje.
Não é o caso da minha amiga, essa é especial e tem carinho pra caramba. Pode esquecer disso às vezes, mas eu sei que ela tem.

10 de julho de 2010

Quando falávamos sobre o caso do goleiro e o até então suposto assassinato de sua ex amante enquanto almoçávamos, alguns colegas de trabalho deram suas opiniões. É interessante ouvir o pensamento das pessoas mas, algumas vezes pra mim, é também aterrorizante. É desanimador constatar que existe gente que, apesar de valorizar a
vida humana, desconsidera certos valores morais, valores esses que por deixarem de existir, consequentemente levam a circustâncias trágicas.
A questão era como tudo começou. Como a mulher surgiu na vida do goleiro e tudo o que ela fez pra chegar, até as presentes notícias, a virar comida de cachorro.
Eu fico meio chocada ao saber que uma mulher, em pleno século XXI, ainda busca se valer do sexo para ter algo de valor na sua vida. E mais me choca entender que esse algo de valor não é apenas dinheiro ou bens materias que elas conseguem através de pensões provenientes de um divórcio ou de um filho (muitas vezes gerados com essa finalidade). Elas também buscam uma certa fama. Querem ser conhecidas como as que acompanham celebridades, já que não têm nenhuma virtude ou característica pessoal que as façam famosas por si só. Por isso, se escoram no cara que é famoso, que tem dinheiro, que possa bancar-lhes as migalhas de vantagens que elas só conheciam através das revistas, novelas e filmes, e que nunca conseguiriam sozinhas por suas limitadas capacidades.
Pois bem, aí veio um colega dizer que ela estava certa! Não tinha nada, era uma Maria Ninguém, fez bem em colar no Bruno que é famoso e rico, mesmo sendo ele casado e pai de duas crianças. E, se ele deu mole, que mal havia nisso?
Ou seja, ficou claro pra mim que muita gente aprova o comportamento dela. Uma Maria Ninguém que evoluiu para Maria Chuteira. E também ficou claro pra mim que as atitudes dela, quando divulgadas nas entrevistas anteriores ao seu desfecho fatal, mostravam quais suas verdadeiras intenções em relação a sua vida. Ela queria, de fato, ser famosa, gostava de aparecer enaltecendo seus dotes físcos, sua beleza, fazendo do seu corpo objeto de desejo.
Pelo que entendi, a profissão de prostituta também evoluiu. Pra que rodar bolsinha na rua quando se pode conseguir bem mais, investindo num relacionamento que não precise durar até que a morte os separe? E se essa relação for coroada com um filho, aí é tirar a sorte grande, é grana pra vida toda!
Meu colega só não disse como a coisa ficaria se ele estivesse na pele do goleiro.
Aceitaria o assédio da mulher? Bancaria os desejos materiais dela? Talvez, afinal ele é um macho, e o macho precisa do sexo, não importa a circunstância moral. Prova disso é o que a maioria dos caras fazem quando conseguem todo esse poder financeiro: suas festinhas recheadas de mulheres, todas em busca de grana e fama. Por outro lado, há também os outros machos que fariam exatamente a mesma coisa que o goleiro fez: livrariam-se da mulher pra não precisar dividir seu patrimônio.
Aí a gente lembra dos movimentos feministas, e as pesquisas que mostram o quanto as mulheres conseguiram se igualar aos homens em termos de salário e profissão.
Mas ao mesmo tempo, quantas ainda têm o mesmo pensamento sombrio que as desqualificam e lhes dão orgulho de serem Marias Chuteiras? Quantas trocam as salas de aula e os livros por operações plásticas que as façam mais belas? Quantas gastam grande parte de seu salário em alisamento de cabelo? Quantas se preocupam mais com belas e boas roupas que valorizem seu corpo, muitas vezes, recém lipoaspirado? E, somente, para encontrar um cara que lhes aproxime dos padrões sociais e financeiros que elas jamais teriam por méritos próprios através de um trabalho normal.
Eu vejo isso o tempo todo. Vejo meninas que buscam a companhia de pessoas que têm coisas que elas gostariam de ter. Não importa se essas pessoas, eleitas por elas até como um "exemplo", tenham caráter duvidoso. Não importa se falam errado ou se nem sabem escrever. Se são bandidos, traficantes, ladrões, golpistas, elas não ligam. Só levam em consideração as vantagens de estar em tais companhias.
Por serem tão jovens, parece que seus pais também desconhecem os bons valores, então tá tudo normal. O grande problema é que essas jovens um dia se tornarão mulheres e aí eu fico pensando se, um dia, teremos como presidente do país uma Maria Chuteira que vai decretar feriados a cada jogo de final de campeonato que não caia num domingo.

27 de junho de 2010

Saber dizer não

Eu achava que havia aprendido bem a arte de dizer não, mas enganei-me. Preciso melhorar muito, estudar mais, pesquisar, treinar, enfim... O dizer não faz parte e pode ser responsável por nossa sobrevivência.
É importantíssimo dizer não àquela pessoa que nos deseja e de quem não estamos tão a fim. Naquele momento, pode não parecer educado a nós, e pro outro, certamente é horrível mas é tão necessário... Isso evita problemas posteriores bem mais desagradáveis.
Saber dizer não ao convite de permanecer num lugar, sabendo a hora certa de ir embora. Saber negar aquela bebida que a maioria degusta com tanto prazer e a gente detesta, mas aceita beber só um pouquinho pelo menos para brindar, como se fosse um crime brindar apenas com água.
Declinar de ir a um lugar porque o outro insiste tanto, apesar da chuva torrencial e da noite fria e quando a gente está enroladinho no sofá, esperando aquele filme que tanto queríamos assistir.
É claro que corremos riscos toda vez que dizemos não. Na verdade, existe o medo de perder a ocasião, o evento e até a pessoa, seja esta um amigo ou amante. Não é qualquer um que aceita o não como algo natural. E muitas vezes, tais pessoas estão tão desesperadas existencialmente que não conseguem se importar com os motivos pelos quais negamos seus convites ou investidas.
Imagino que talvez não existimos pra elas como seres independentes. Temos que fazer o que elas querem, o que esperam de nós, como se tivéssemos a obrigatoriedade de satisfazê-las independente da nossa vontade. Como se as amássemos incondicionalmente, mas acontece que eu não creio muito no amor incondicional que não seja o de mãe, e mesmo assim, nem são todas que o têm.
Então, eu realmente preciso melhorar o meu "não". Mão quero ir a esse lugar, não gosto dessa bebida, não estou a fim de você, e por aí vai. Pode parecer grosseiro, mas alguém me disse uma vez para ligar o "foda-se" caso a pessoa venha a se debater de frustração diante de nossa negativa. Não é problema nosso quando o outro não é capaz de respeitar nossas escolhas. Não temos culpa se o outro não entende nossa falta de vontade ou desejo e nem encara isso como uma coisa natural. E se assim for, sofreremos consequências sim, mas aí já teremos a certeza para tomar a decisão de descartar essas pessoas, uma vez que elas não nos enxergam como seres humanos que somos, e sim, objetos prontos a fazerem tudo o que elas querem.
Algumas vezes, dizer não pode trazer a infelicidade a alguém, mas dizer sempre sim, certamente é prejudicial a saúde.

16 de junho de 2010

O Esnobe e o elegante

Esse texto poderia ser uma crônica, talvez um conto ou até um poema, mas é uma simples narrativa baseada em fatos. Fatos que eu vinha registrando até pouco tempo em intervalos regulares da minha vida e em determinadas situações. Numa delas, a coisa fluiu de forma a me permitir interpretá-la e decodificá-la em palavras, de forma que se tornasse compreensível a quem o lesse.
Surgiu um embate quando uma mulher assumiu determinado espaço num grupo de trabalho. isso porque ela veio de fora, não fazia parte antes daquele grupo, e porque era "diferente" dos demais. Logo, passou a ser discriminada. Lhe faziam caras feias, falavam mal dela pelas suas costas e todos a achavam insuportável. Perguntei o porquê de tanta rejeição, e a resposta era quase unânime: ela é esnobe!
Claro que houve outros adjetivos semelhantes como "metida", "cheia de si" ou "dona da cocada". Mas isso não me esclarecia muita coisa, na verdade, absolutamente nada.
Algo que ela tenha feito errado? Não, diziam-me. Alguma decisão que ela tomou foi absurda? Também não. Alguma consequência ruim para seus atos? Nenhuma. Então, porque tanta hostilidade? Ah, ela é esnobe. Simplesmente, esnobe.
Daí passei a prestar mais atenção na dita cuja, tentando descobrir o foco do suposto esnobismo, e cheguei a uma conclusão muito básica. Era não era esnobe, era elegante.
Elegância não tem a ver somente com aparência. Não se trata apenas de vestir roupas chiques, ter boas maneiras ou usar palavras sofisticadas. Elegância pode ser tudo isso se a pessoa também tiver determinada postura. Ninguém precisa ter muito dinheiro pra ser elegante, basta o bom senso e o velho apoio da educação.
No caso citado, a elegância da mulher contrastava com a falta de elegância dos demais, de uma forma geral. As pessoas daquele grupo não tinham educação, e lhes faltava bom senso.
Pois enquanto eles falavam alto, quase gritando uns com os outros, ela falava baixinho, num tom de voz suave e delicado. Quando eles faziam alguma coisa errado, punham a culpa uns nos outros, ou sempre buscavam uma justificativa para seus erros. Ela não. Ela admitia seu erro, assumia sua ignorância no assunto e buscava uma forma de aprender a não errar novamente. Corajosamente humilde.
Ao contrário do grupo, ela também não fazia uso da falsidade, sorrindo quando não gostava de alguma coisa. Diferente dos demais, ela sabia respeitar limitações. Enquanto a maioria usava palavras vulgares para algo ruim ou mal feito, ela usava adjetivos mais suaves e coerentes, jamais um palavrão.
Eles costumavam conversar sobre o Big Brother, novelas, até sacanagem, e ela falava sobre cinema, livros e música.
Ela não gosta de funk!" Ah, mas ela escuta Bach... "o que é Bach? Algum batidão?
A coisa era assim, e me trouxe uma lição. Pessoas grosseiras não gostam de pessoas elegantes porque não se identificam com elas. E não se identificam, porque desconhecem o que é ser elegante.
Pessoas grosseiras medem as outras pelo que as outras têm, ou aparentam ter. E se estas (que têm) forem tão grosseiras quanto elas, podem até ser legais. Mas, se tiverem um pouco de educação e bom senso, pronto, são esnobes.

29 de maio de 2010

Suicídios trabalhistas

Recebi um e-mail relatando os casos de suicídio que são cometidos na China, particularmente suicídios "trabalhistas", e que têm ocorrido na fábrica chinesa Foxconn. Pra quem não sabe, a Foxconn é a empresa que monta o Ipod, da Apple, além de consoles de jogos, câmeras digitais, telefones celulares e computadores da Sony, Dell e Nokia, entre outros.
A causa disso? Condições de trabalho ruins, excesso do mesmo, desilusão com os governantes e os próprios empregadores, rotina e por aí vai.
A mensagem conta que uma repórter de 22 anos trabalhou lá disfarçada e relatou turnos de 12 horas. "O complexo é do tamanho de uma cidade e possui dormitórios, lojas, restaurantes, um corpo de bombeiros próprio e agora existe um serviço de apoio psicológico para os que pensam em se matar. Segundo a reportagem, os operários são acachapados pela a monotonia dos trabalhos repetitivos, até mesmo andando e comendo ao ritmo do barulho das máquinas." Alguém lembrou do filme "Tempos Modernos", de Charles Chaplin?
Uma amiga havia me falado meses atrás sobre o que estava acontecendo na França, dessa vez na empresa France Telecom. Talvez com melhores condições que a fábrica chinesa, a France Telecom, que era estatal, ao ser privatizada adotou medidas que estimulavam a competitividade, aposentadoria, demissões voluntárias e prazos curtos para o alcance de metas. Aí vieram, junto a isso tudo, os suicídios.
Em 2007 já havia ocorrido uma discreta onda suicida na Renaut, também francesa. Trechos das cartas que os funcionários escreveram antes de morrer, responsabilizavam o excesso e a pressão do trabalho, coisa considerada um stress profissional.
Hoje aqui no Brasil, ouço casos de jovens trabalhadores que, motivados pela ascensão profissional que reboca a social, grana e poder, transformam suas vidas num verdadeiro empreendimento de busca do inalcançável. Eles trabalham nos finais de semana, levam trabalho pra casa ou envolvem-se em atividades profissionais e cursos que nem sempre conseguem concluir proveitosamente (basta o certificado, para melhorar o currículo). Para esses jovens, trabalhar excessivamente seria sinônimo de, a curto prazo, conseguir um bom carro, morar num lugar bacana, viajar pelo mundo, vestir-se bem e serem conhecidos e respeitados. Tentam adquirir bens que a geração anterior teria demorado mais tempo para conseguir, e invariavelmente, ocupam cargos para os quais não estão preparados.
Numa sociedade que estimula o consumo desenfreado como a nossa, quanto mais se adquire, mais se tem valor. Muitos da minha geração talvez já tenham passado por isso pois o consumismo sempre existiu por aqui, embora os valores estejam hoje em dia bem distorcidos. Acontece que muita gente "mais velha", agora está sucumbindo ao desapego. Uns já conseguiram o que queriam, outros já têm o que precisam, muitos já não querem mais e o fato é que, para um empregador capitalista, mais vale um jovem ambicioso que um profissional experiente que talvez se incomode mais com as horas extras.
Foi o que aconteceu a uma amiga, que perdeu os pais num breve intervalo de tempo e foi duramente pressionada no trabalho por não atingir suas metas. A ela não foi dado o tempo necessário à sua dor nem à sua readaptação, apenas o tempo burocrático, aquele que a CLT permite. Felizmente ela não cometeu suicídio, apenas pediu demissão e abriu sua própria empresa. Espero, de coração, que esteja bem.

21 de maio de 2010

Brothers desesperados

Inevitável comparar. Depois de um daqueles papos sobre a programação da TV, passando pelas novelas, pelo Silvio Santos e o Faustão, chegamos ao Big Brother e tudo o que ele representa. Aí eu fiquei sabendo de um filminho básico, antiguinho até (1969), do grande Sydney Pollack e com nada menos que a Jane Fonda.
O filme se chama a Noite dos Desesperados, e rola numa das piores épocas dos Estados Unidos, a crise de 1929. Alguns podem achar que o pior momento americano foi a partir do 11 de setembro, mas eu considero que a recessão fez mais vítimas que o ataque terrorista. Não importa, acabei foi comparando a história daquele filme do século passado, com o que acontece hoje aqui no Brasil e, por que não dizer, no mundo todo.
A situação era a seguinte: pessoas (desesperadas) corriam atrás de sua sobrevivência de todas as formas possíveis e algumas, como a Jane Fonda, foram parar numa maratona desumana de dança, onde precisavam dançar quase ininterruptamente durante tantas horas aguentassem. O casal vencedor saia com 1.500,00 dólares, descontadas as despesas de roupa, médicos e alimentação. Claro que muitos não sabiam dos descontos, e a maioria estava ali somente para receber as refeições.
Era realmente desesperador, e mesmo sendo um filme, não me passou tão perto da ficção. Basta assistir ao Big Brother e àquelas provas de resistência absurdas, tanto físicas como psicológicas. Entretanto, há uma diferença. No filme, as pessoas eram famintas, pobres, desamparadas e doentes. A crise gerou tudo isso. Hoje, nos Big Brothers, os concorrentes são sarados, saudáveis e têm um teto. Apénas querem seu pequeno milhão e, pra não dizer, mais que a grana, a fama.
Já citei a frase de uma amiga, que dizia que as pessoas fazem qualquer coisa por sexo, poder e dinheiro. E o Big Brother te dá tudo isso mesmo que vc não ganhe, bastando apenas aparecer ali naquela casa.
No filme, o diretor da maratona transformava os participantes em personagens, expondo seus dramas pessoais para estimular o imaginário do público que assistia. Isso dá ibope.
Alguém já descobriu a manipulação que também rola no reality show de hoje. Casais são estimulados a ficarem juntos, um mais estouradinho vive o personagem durão e briguento da casa, tem o antipático, o simpático, o politicamente correto, e por aí vai. Na última edição havia dois homossexuais assumidos e um homofóbico que acabou vencendo. Seria coincidência essa condição tão paradoxa e geradora de polêmica, que também dá ipobe?
Talvez sim, mas eu não quero nem pensar se um dia o Brasil venha a viver uma crise como a que os Estados Unidos viveram naquela época. Quando a maioria das pessoas perderem todos os seus bens e realmente estiverem sem ter o que comer e onde dormir, o que não terão que fazer para conseguir uns trocados?

6 de maio de 2010

Preciosa

Há muito um filme não me comovia como o que assisti recentemente, Preciosa. Gostei do desempenho dos atores, gostei da direção e do roteiro, da fotografia e muito, mesmo, da trilha sonora, pois sou fã da música negra americana. E apesar de todo aquele drama existencial, perceber a esperança e o humor que persistiam na história de vida da garota.
Vemos tantas Preciosas por aí... quantos adolescentes não têm sonhos que são destruidos pela sociedade ou até pela própria família? Quando conseguem alcançar ao menos um deles, são sobreviventes e, quem sabe, heróis.
Hoje, próximo ao dia das mães, reflito sobre isso. Conheci um cara que foi criado por uma mãe adotiva, e já adulto, me disse que sua mãe verdadeira o havia procurado. Ele não quis papo com ela.
Na época, fiquei triste com aquela decisão, pois sempre ouvi por aí que "mãe é mãe", e imaginei sua mãe biológica sofrendo, querendo talvez reparar algum erro do passado mas ele não lhe dando essa chance. Hoje percebo que não podemos condenar ninguém se não temos conhecimento dos fatos. Não sei o que ela fez a ele além de não assumí-lo e essa resposta, só ele tem e a ele cabe decidir.
A maioria de nós foi criada com aquele bordão da igreja de que perdoar é divino, mas até quando devemos aplicá-lo e conviver com alguém que nos fez algum mal? Até que ponto nossa dignidade e nossa sobrevivência se torna menor do que isso? Como pode uma criança ser obrigada, por exemplo, a conviver com alguém que abusa dela, seja sexualmente ou moralmente?
Tirando o caso da procuradora que adotou uma menina para torturá-la, notório por causa da mídia, existem milhares de famílias tortas pelo mundo afora, pais biológicos ou adotivos e parentes cruéis desequilibrando pequenos seres humanos que ainda não sabem o que vieram fazer aqui. Muitos desses "responsáveis" às vezes, não percebem o que estão fazendo, e não têm consciência de que qualquer atitude que tomem pode desencadear traumas e traumas por toda uma vida.
Não sei o que foi feito da Preciosa do filme, já que a obra foi baseada numa história real. Mas sei o que acontece no meu país e na minha cidade, com tantas crianças nascendo de outras crianças, tão desamparadas como elas e que um dia, também venham a se tornar sobreviventes.

25 de abril de 2010

Publicidade

Quando eu resolvi trabalhar com desenho não tinha uma idéia precisa de tudo o que eu poderia fazer além de, simplesmente, desenhar. E um dos primeiros cursos que fiz nessa área foi o de desenho de propaganda. Sinceramente, havia algo em mim que não combinava muito com aquilo, pois tudo que dava grana era voltado para o consumo. Questionava-me a respeito de usar meu traço ou minhas idéias para vender produtos, muitas vezes fúteis, descartáveis, e que nada acrescentavam à condição humana.
Bom, isso era o meu idealismo na época e que, até hoje, não mudou muito. Tanto que fugi da publicidade e enveredei por outros caminhos, mesmo trabalhando com idéias e desenhos.
Todo mundo precisa sobreviver, mas ainda acredito que os melhores trabalhos, sejam quais forem as técnicas, valem pela sua idéia e seu conceito. E quando esse conceito é pro bem de todos e se vale da publicidade para ser exposto, aí eu admiro pra caramba! É o caso da propaganda bem aplicada, daquela que diz a que veio, que estimula, gera polêmica e faz todo mundo pensar.
Aqui vão uns exemplos legais.

SEGURANÇA NO TRÂNSITO










VIOLÊNCIA








RESPEITO AOS ANIMAIS














PRESERVAÇÃO AMBIENTAL














EXISTENCIAIS






19 de abril de 2010

O Cardeal e o Deputado

Tenho lido ultimamente, declarações esquisitas a respeito da liberdade sexual dos cidadãos, do Brasil e do mundo e mais precisamente, dos cidadãos gays. Recebi um e-mail relatando a declaração do Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, que afirmou na segunda-feira (12/04/2010) que é o “homossexualismo” (sic), e não o celibato, que deve ser relacionado à pedofilia.
Então tá, a culpa é toda dos gays, afinal, alguém tem que assumir isso.
O Brasil é um dos países onde mais se assassinam homossexuais. Chamar um cara de viado é pior do que xingar a sua mãe. Se ele é traído pela mulher, ganha chifres, vira corno e, se não der o troco, também pode ser considerado gay.
Estou cansada de discriminações, de viver essa inversão de valores, pois sei que, em alguns lugares um assassino talvez seja mais respeitado que um gay.
Aí veio também o deputado Jair Bolsonaro fazer coro a um general estúpido, dizendo ser inaceitável que os gays atuem nas forças armadas. Eles até podem ter outra profissão, mas quartel é "coisa de macho".
Existem gays que, certamente, não deviam estar num quartel, assim como milhares de heterossexuais. Até porque, na minha concepção, quartel é coisa de maluco. Mas pensamentos assim me assustam profundamente, pois até quando vai existir esse desrespeito a vida sexual de um ser humano?
O cardeal, na sua infeliz declaração, devia estar fazendo uma referência aos escabrosos fatos ocorridos na igreja católica, à pedofilia generalizada que lá se instalou desde que os primeiros padres abriram mão dos seus votos de celibato. Mas, dizendo isso, deu um tiro no próprio pé, pois pelo seu texto subentende-se que todos os praticantes pedófilos da igreja sejam também gays!
Definitavamente, cada vez mais concordo com aquele papo de que a religião é o freio do mundo, pois já vi homossexuais irem à igreja católica para se confessar. Ficava imaginando qual o grande pecado que contavam aos padres no escuro do confessionário. Se, para a igreja o homossexualismo é pecado, como deveriam ser as suas vidas tendo que lidar com isso o tempo todo...
Talvez os crentes encontraram uma solução melhor. Um que conheci e sendo gay, pagava rigorosamente o dízimo ao pastor. Ele acreditava seriamente que aquele dinheiro "compraria um pedacinho do céu", e dessa forma, podia continuar com seu homossexualismo sem tantos medos. Pra cada cara que ele ficasse, devia haver um tipo de cálculo, uns poderiam custar mais que outros e assim, o pastor enchia os bolsos enquanto ele esvaziava sua culpa.

12 de abril de 2010

Exigências

Há muito tempo eu não conversava com uma amiga, e esse fim de semana nos reaproximamos um pouco. No papo, disse a ela que eu andava meio exigente, e logo ouvi aquele huuummm de crítica. Tem gente que tem medo de pessoas exigentes. Também tenho, principalmente quando é o chefe.... Alguns deles podem te dar uma bronca por algo que julgam estar errado, mas você sabe que está certo. E aí, vai encarar?
Eu já encarei muitos chefes, como também já deixei passar, depende do meu estado de espírito no momento.
Mas minha questão é outra, pois disse a minha amiga que eu andava sem paciência para algumas pessoas que eu considerava chatinhas, no entanto, sou obrigada a lidar com elas.
Foi aí que ela questionou: será que você não está muito exigente?
Na hora, não quis entrar em detalhes, mas hoje, lembrando do nosso papo, refleti sobre isso, até preocupada em estar me tornando alguém que exige demais dos outros. Hoje, pensando nessas pessoas que cruzaram meu caminho e no meu relacionamento atual com elas, cheguei a conclusão de que não, não estou muito exigente.
Será que é exigir demais que elas sejam gentis? É muito pedir pra não ouvir fofocas ou não achar graça em piadinhas preconceituosas de gays ou negros? É tão ruim não querer se envolver quando um fala do outro pelas costas, comentando sua roupa, seu corpo, sua maneira de ser?
Minha amiga, certamente, não sabe o que eu escuto ou com quem eu convivo. Me dói os ouvidos e o cérebro quando ouço alguém dizer que chutou um filhote de gatinho na rua, simplesmente por não gostar de gatos. Me incomodam os lobistas, aqueles que se agrupam para conseguirem vantagens ilícitas, sem se importarem em prejudicar os demais que não fazem parte de seu grupo restrito. A grosseria de não ceder a vez, tipo o velho ditado da "farinha sendo pouca, meu pirão primeiro". A escassez de companheirismo, não se preocupando se você está ou não precisando de ajuda, e por aí vai.
Não acho que eu esteja tão exigente assim, apenas espero que as pessoas tenham um pouco mais de bom senso, dignidade e educação. Dessa forma, podemos também ser gentis, podemos ajudar e respeitar o outro, fazer a coisa certa e trazer felicidade tanto pra eles como pra nós mesmos.
Certa vez, uma holandesa me disse que adorou o Brasil, mas nunca viveria aqui justamente por causa desse tipo de comportamento. Ela achava que isso era pior que a violência. Todos nós podemos ser violentos alguma vez em nossas vidas, basta perdermos a cabeça por um minuto. Mas conviver com determinadas "pessoas", isso temos que fazer o tempo todo, até por necessidade. E é chato pra caramba!

11 de abril de 2010

A redação da Clarisse

Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel V. da Silva, de 24 anos, estudante que termina faculdade de direito da UFRJ em julho de 2010, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários.
Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade'.
A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNESCO.

'PÁTRIA MADRASTA VIL'
Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez...Contraditórios? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade. O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica. E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)...
Mas estão elas preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil. Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos. Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?

10 de abril de 2010

Amor em tempos ódio

Um amigo e poeta me disse uma vez que por mais que você tenha raiva de determinada pessoa que você amou mas te fez sofrer, não acredite nisso. O amor é muito mais forte que o ódio, o amor vence barreiras que você nem imagina que existem e, quando
verdadeiro, dura toda a sua existência. Ou seja, enquanto existimos, o amor fica ali, paradão, mesmo que não convivamos mais com aquela pessoa que o dividiu conosco.
A gente só dá conta disso quando reencontra essas pessoas, e o tempo é único pra nada um de nós. Alguns rapidinho esquecem as mágoas e partem logo pra amizade, outros precisam de alguns anos e tem ainda aqueles que, pra quem acredita, só resolve suas pendências em outras vidas.
Pessoas podem nos machucar muito a ponto de não desejarmos mais estar com elas, vai depender do nosso orgulho ou dignidade. Mas também depende da nossa inteligência aceitar a pessoa depois que ela reconhece seu erro, e isso eu prezo pra caramba. Reconhecer os próprios erros não é pra qualquer um, e quando alguém consegue isso, é sinal de que houve mudanças, crescimento, sabedoria. Não é ótimo estar ao lado de pessoas sábias?
Quando percebemos que aquela pessoa evoluiu nesse sentido, ficamos mais leves porque a mágoa vai embora, não existem mais cobranças e aí, nos damos conta de toda a extensão do amor que sentimos. É só correr pro abraço, sentir-se abraçado pelas lembranças bacanas, saber que aquilo tudo não foi em vão, que nos ajudou a compreender nossa própria existência e o sentido da felicidade.
Da minha parte, estou tranquila por saber que minhas pendências estão sendo resolvidas nessa vida. Ainda bem, senão na outra eu provavelmente estaria assoberbada, sem tempo pra mais nada a não ser resolver problemas com um monte de gente.

8 de abril de 2010

Áreas de risco

Essa história de desabamentos por causa da chuva se repete ano após ano. Assim como São Paulo e Santa Catarina, agora foi a vez do Rio de Janeiro. Parece até uma coisa cíclica, cada estado tem a sua vez, como uma roleta russa do destino que escolhe o momento para cada lugar.
Sempre se discutiu as causas para essas tragédias, e sempre se chegou as mesmas conclusões: ocupação irregular, lixo nas encostas, desmatamentos. E hoje houve muita discussão entre os colegas do trabalho enquanto almoçávamos com o RJTV mostrando aquele monte de gente desabrigada, procurando seus próximos debaixo da lama. As cenas do morro de Niterói com quarenta casas soterradas foi de fazer perder o apetite, e o papo era o mesmo que eu já cansei de ouvir quando acontecem coisas assim: de quem é a culpa?
Li em algum lugar, que o Governador Sergio Cabral culpou os próprios moradores, aqueles que construiram suas casas num terreno que serviu de lixão. A terra era fofa, não dava pra fazer um barraco com segurança. Mesmo assim, eles invadiram o terreno e lá ficaram...
Não nego a responsabilidade dessa gente, assim como não me cabe julgar suas atitudes de resolverem viver ali. Imagino os seus motivos, que devem ser os mesmos de outras milhares de pessoas que não têm onde morar. Mas questiono muito o texto do Governador.
Nas reportagens, ficou claro que a Secretaria de obras fez, em 2005, um levantamento das áreas de risco na região metropolitana do Rio. E se esse levantamento existe, que providências o Estado tomou para evitar esse tipo de tragédia?
Se o morro de Niterói era, sabidamente, um local impróprio para assentamentos, como essa gente conseguiu construir lá suas frágeis casinhas? Uma casa não é levantada da noite pro dia, e havia um monte delas, imagino quase uma centena, porque se quarenta foram soterradas...
No início dos anos 80, eu participei do Projeto Rondon em uma cidade no interior de Campos, chamada Barcelos. Não havia asfaltamento nessa cidade, as pessoas eram bem humildes, poucas possuiam sequer uma TV, e algumas comunidades sem energia elétrica. A nós, estudantes, cabia ensinar-lhes dicas básicas de higiene e saúde, visto que a maioria sofria com doenças causadas justamente pela falta desses dois itens. Vi crianças excessivamente desnutridas com sintomas de verminoses, pessoas com doenças de pele, complicações intestinais, renais, e um monte de mulheres grávidas que não tinham a menor ideia de como tomar anticoncepcionais.
Ensinávamos a lavarem as mãos, a ferver a água dos poços para beber e cozinhar, a cuidar dos alimentos, a fazer soro caseiro, enfim. Coisas que não acreditávamos que alguém não tivesse a noção de que era preciso fazer. E eles, realmente, não sabiam. Eram os sem noção.
Por causa disso, imagino essas pessoas que agora, igualmente sem noção, construiram casas em locais inapropriados. Assim como o pessoal de Barcelos, esses também não sabiam. Ninguém apareceu ali pra avisar, ninguém os proibiu, assim como não lhes foi dada outra escolha. O Governador, o Prefeito e algum político talvez já tivesse ido na tentativa de angariar votos, mas explicar àquela gente que ali não era seguro, acredito que isso não fizeram.
O Estado teve recursos para fazer o tal levantamento, tem recursos para construir complexos habitacionais onde não há tanto risco, e vai conseguir recursos pra sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo. Até lá, quantas chuvas não haverão de cair, quantas casas não desabarão ou quantos não morrerão soterrados?
Talvez, daqui a mais 5 anos, eles façam outro levantamento mostrando áreas de risco que hoje ainda não existem. E veremos, na TV, outras tragédias e ainda, outro Governador isentando-se da sua parcela de responsabilidade.

28 de março de 2010

Critérios

Ontem foi um sábado agradável, apesar do calor que insiste em continuar pelo outono afora. A idéia era tomar um chopp em Ipanema pra ver como andavam as coisas por lá. Movimento fraco, mas tudo muito tranquilo porque conseguimos uma boa mesa no Manuel e Joaquim, e também porque Ipanema não lembrava em nada aquele glamour do início dessa década, já que desde 2004 eu não aparecia por lá.
Como sempre acontece nesses papos de mulheres em mesa de bar, o assunto passa pelos relacionamentos, de preferência amorosos, e dessa vez me chamou a atenção as opiniões sobre os critérios da escolha de alguém a quem queremos "namorar".
As pessoas mais discretas nem sempre revelam quais os seus verdadeiros critérios. Mesmo quem jure de pés juntos não ter nenhum critério para envolvimentos, sempre mede ou avalia alguma coisa na pessoa desejada. Mas como eu estava entre amigas, pude conhecer os seus e expor os meus, que até pouco tempo atrás nem tinha tanta certeza de serem fundamentais.
Cada um tem os seus, e mesmo que a gente não se dê conta, eles existem e interferem sim, nas nossas escolhas. Pessoas carentes podem até passar por cima deles, mas eles vão acabar aparecendo ao longo do relacionamento, se este durar. E a coisa pode não acabar tão bem quanto se esperava.
Tenho um conhecido que me relatou os seus critérios de uma forma muito bem humorada. Seu medo era de, ao envelhecer, virasse evangélico e se apaixonasse por alguém do quadrilátero do terror: pobre, feio, burro e chato. Rimos bastante, mas quando penso nisso, imagino que esse seja o critério de quase todo mundo que conheço.
Eu pelo menos, dessas características, hoje em dia não me imagino com alguém que seja burro ou chato. A beleza e a riqueza não me cativam, mas o conteúdo cultural pra mim, é fundamental.
Mas eu só me dei conta disso quando namorei alguém que não me impressionou nem ou pouco em termos dessa "bagagem". Impressionou-me sim, a ausência dela, o que tornou a pessoa consequentemente chata. Porque era chatíssimo assistir a um filme cult e perceber que o outro não entendeu nem a mensagem nem a história. Foi muito chato descobrir, quando já estava envolvida, que aquela criatura não conseguia ler um livro porque lhe dava sono, e a gente perdia mais um assunto pra se conversar. Era chatésimo entrar em exposições e ver a pessoa passando pelas obras sem fazer nenhum comentário porque não percebia nada do que o artista em questão pretendia mostrar.
Não sou uma pessoa excessivamente culta, não vi todos os filmes ou obras nem li os melhores livros, mas acredito que o ser humano deve ter um pouco de sensibilidade pra lidar com sua própria existência, e a cultura ajuda muito. Interpretar, por exemplo, as mensagens que um escritor descreve colabora pra gente conhecer o concretismo da vida.
Formamos opiniões próprias prestando atenção no que acontece a nossa volta, aprendemos coisas que a escola ou universidade não nos ensina e a cultura, mesmo que muitos a considerem algo abstrato, é uma ponte para tudo isso.
Voltando aos critérios, resumimo-nos em Ipanema a concordar que estamos presos a eles, e com a idade ou maturidade, vão se tornando mais e mais complexos e percebidos e, em alguns casos, fundamentais. Já ouvi gente dizendo que não namoraria alguém que não tivesse a mesma classe econômico-social (não sei se esse hífem ainda cabe aqui). Tem gente que jura jamais se envolver com uma pessoa gorda, outros só namoram quem tem um carro, e há ainda aqueles que sempre aparecem com alguém bem mais jovem.
Não me cabe julgá-los. O que procuro fazer agora é avaliar os meus critérios para que não me torne escrava deles, impossibilitando-me de conhecer pessoas novas e diferentes. Se formos em busca da pessoa perfeita, cairemos no limbo e adotaremos um espelho por compania. Levaremos nosso espélho a todas as festas, Viajaremos com ele, compraremos duas entradas no cinema ou teatro e o colocaremos na poltrona ao nosso lado. Se insistirmos em lhe dar pipoca na boca, seremos expulsos da sala...

23 de março de 2010

O Poder

Dê o poder a alguém para que você possa conhecê-lo. Sempre ouvi essa frase mas nunca havia prestado atenção no que de fato ela queria dizer.
Hoje consigo entender muito bem esse antigo ditado. O convívio com o ser humano nos faz refletir em muitos ditados que nos passam pela vida e aos quais não ligamos muito. Mas um dia a gente pára, observa e bingo! Um deles sempre se encaixa perfeitamente na situação em que estamos.
Essa história do poder é muitíssimo verdadeira, e não falo do poder de um presidente da república (embora esse caso também possa fazer parte), mas do poder, pura e simplesmente, independente da política, condição social ou econômica. Basta uma breve possibilidade de hierarquia.
Lembro das palavras de uma amiga que me disse que as pessoas fazem QUALQUER coisa por dinheiro, sexo e poder, mas acho que de certo modo, isso é redundante. O cara que faz sexo se considera poderoso, o que tem dinheiro, mais ainda. No final, tudo que é conseguido nos torna poderosos, e essa é a parte boa. É bacana ser poderoso, ou no mínimo, sentir-se assim. Mas aqui, falo dos que ganham o poder e mudam seu comportamento desenvolvendo aqueles aspectos (humanos) desagradáveis.
É assim: o cara é humilde mas ganha um aumento de salário que possibilite a compra de qualquer coisa que outros a sua volta não podem ter. Pronto, sua postura já é outra, ele é até capaz de tripudiar dos que não conseguiram chegar lá. Se for questionado, o argumento quase sempre é o mesmo, os outros merecem ser tratados mal porque são "invejosos".
Esse é um exemplo basiquinho, mas certa vez li um artigo de um sociólogo comentando a ação da polícia no Rio. O policial é humilde, ganha mal, corre riscos. Mas faz da sua farda e, principalmente da sua arma, seu passaporte para o poder. Ele se dá ao direito, então, de maltratar seus semelhantes, entrar numa comunidade atirando sem olhar, destratando moradores inocentes e até agredindo-os. E muitos policiais moram nessas comunidades.
Essa história já tem um tempo, quando a polícia era questionada justamente por essas barbaridades e não existia ainda a tal Unidade Pacificadora. Mas isso não mudou muito não, basta ver a abordagem policial numa blitz. Tem duas versões e a diferença entre elas é o modelo do carro que é parado. Motoristas de carros mais caros têm tratamento diferenciado e geralmente são chamados de "Doutor".
Deixando de lado a polícia, um trabalhador qualquer de uma empresa qualquer recebe uma responsabilidade extra no seu trabalho. Mesmo sem ganhar por isso, ele pode se tornar o dono da verdade, pode entregar um colega que ele julgue não estar fazendo as coisas certas, ou exigir que os outros façam tudo exatamente como ele acha que tem que ser feito. E nem chefe de nada ele passou a ser...
É como uma vizinha que eu tenho. Durante anos foi a síndica do prédio e, mesmo também sem nada ganhar com isso, transformou-se num verdadeiro xerife. Somente as decisões dela eram válidas, tudo tinha que passar por suas mãos e suas idéias eram as únicas a serem postas em prática. Fiquei muito deprimida quando ela derrubou um coqueiro que já estava na altura da minha janela, lindo, cheio de cocos e servindo de abrigo para os pardais. Tudo bem, ganhei uma vaga para um carro que não pretendo ter

10 de março de 2010

A fé fake

Ainda sobre a história da fé. É meio difícil pra mim me fazer compreender quando digo que não sigo nenhuma religião. Vivemos num país religioso e o sincretismo é quase absoluto, portanto as pessoas não entendem a minha opção. Acham que eu TENHO que acreditar em alguma coisa e muitos ainda acham que a sua religião é a certa.
Que troço difícil. E quanto mais eu convivo com eles, mas me questiono se essa fé é, realmente, autêntica.
Nunca li a bíblia, mas sei que muitas das suas mensagens foram decodificadas com o tempo, e muitas são exatamente iguais as mensagens de religiões diferentes da católica.
Outro dia recebi um e-mail daqueles enjoados, no Power Point, ditando princípios para que possamos ter uma vida melhor, nada diferente do que já vi por aí, pois as muitas religiões se apropriam desses "conselhos" e a gente fica se perguntando qual delas, de fato, lançou a primeira idéia.
Os princípios são sempre iguais, sempre levam ao mesmo lugar. Seja bom com seu irmão, faça o bem ao próximo, sorria, seja gentil, verdadeiro, olhe nos olhos e por aí vai. Podem simplesmente fazer parte de preceitos budistas, por exemplo, mas também se aplicam a qualquer outra doutrina que pregue a fraternidade, o bem viver, o amor, a paz... Não importa, o fato é que eu sei de tudo isso e tento buscar, sempre que posso, viver bem com meus semelhantes, independente de uma religião.
Tento seguir essas regrinhas básicas e muitas vezes, percebo que muita gente que me critica pelo meu desapego religioso, é incapaz de segui-las. Tem gente que enche o peito pra dizer que vai à missa, conhece toda a história de Cristo, ouve os sermões do padre, mas mente, trapaceia, é desleal com seu próximo. Outros são espíritas, participam das reuniões em seus centros, assumem compromíssos ferrenhos com isso mas não consegue ouvir o que um semelhante tem a dizer, quando necessário. E pra não dizer que esqueci dos envagélicos, com todo o seu leque de opções doutrinárias, são os que mais me incomodam. A maioria tripudia das crenças diferentes da sua, a maioria cria barreiras de convivência, a maioria fica amarrada aos jargões dos pastores e freia o seu próprio desenvolvimento como ser humano. E, a grande maioria, também não sabe lidar com as tais regrinhas, visto que existe, subliminarmente, um apego exclusivo ao dinheiro. Fato é que, ouvindo aqui da minha casa as falas dos pastores da Universal, percebo o quanto eles estimulam os crentes a subir na vida, a ganhar mais e mais dinheiro. Nada contra, absolutamente, mas sabendo que parte desse dinheiro conquistado vai para os cofres da igreja, entendo o porque desse estímulante sermão.
Sendo assim, prefiro continuar na minha e tentar não ligar pra religiosidade à minha volta. Pretendo continuar sendo verdadeira, honesta, tratando todos da mesma forma, independente de sua situação social ou financeira, pois muitos dos que dizem ter fé e pregam o bem ao próximo, se mostram presos ao preconceito de raça, cor, bairro, profissão, nível de escolaridade e por aí vai.

3 de março de 2010

Reencontros

Como seria um reencontro? Um com alguém que a gente muito amou, com quem viveu loucuras, com quem nos descobrimos e que se descobriu conosco...
Sempre pensei nisso, e tenho certeza de que todo mundo pensa em reencontrar um daqueles amores do passado, quando se era, talvez, um pouco diferente do que se é agora.
Foi numa festa que eu tive esse reencontro. Era algo que eu sempre desejei mas nunca esperei, alguém que eu tinha vontade de ver, de falar, mas não tinha a menor idéia de como seria isso.
Pois aconteceu, e verdade seja dita, eu me emocionei até as lágrimas de felicidade por saber que o "alguém" estava vivo, bem, e sendo a mesma pessoa bacana de mais de vinte anos atrás.
Li em algum lugar que o amor não acaba nunca, ele apenas se transforma, e nosso coração está sempre se dilatando pra receber novos amores. Também sei que, muitos desses novos amores passam rapidinho, porque na verdade talvez nem sejam amores, apenas paixão ou admiração que nos confundem por um capricho de nossas carências.
Batendo papo com amigos, já fui perguntada se realmente amei uma ou outra pessoa. E eu confesso que muitas vezes, não sabia a resposta. Geralmente esses questionamentos acontecem quando o namoro termina recentemente, e a gente não tem ainda o devido tempo pra processar o que, de fato, aconteceu com nosso coração.
Mas eu tive exatos 28 anos pra saber o que se passou com o meu, e a emoção foi, definitivamente, por ter essa certeza e felizmente, pela capacidade de ter amor dentro dele.
Não houve nenhum engano, nehuma carência, nenhum capricho. O amor existiu e existe até hoje, ele não acaba nunca, mesmo que transformado ou (já li isso também) disfarçado de alguma outra coisa. Não importa, ele está lá e pode nos fazer imensamente felizes, basta que o cultivemos com bons pensamentos, boas lembranças e bons fluidos.
Como aquela famosa cena final de Ghost, nós levamos o amor conosco, pra onde quer que a gente vá. Isso, claro, porque uma vez verdadeiro dentro de nós, ele nunca sairá.

1 de março de 2010

O menino que domou o vento

Adoro quando recebo histórias bonitas, como essa do menino africano que vou reproduzir agora:


"Escondido entre Zâmbia,Tanzânia e Moçambique, o Malauí é um país rural com 15 milhões de habitantes. A três horas de carro da capital Lilongwe, a vila de Wimbe vê um garoto de 14 anos juntando entulho e madeira perto de casa. Até aí, novidade nenhuma para os moradores. A aparente brincadeira fica séria quando, dois meses depois, o menino ergue uma torre de cinco metros de altura. Roda de bicicleta, peças de trator e canos de plástico se conectam no alto da estrutura e, de repente, o vento gira as pás. Ele conecta um fio, e uma lâmpada é acesa. O menino acaba de criar eletricidade.
O menino e a importância de suas descobertas cresceram. William Kamkwamba, agora com 22 anos, já foi convidado para talk shows, deu palestras no Fórum Econômico Mundial, tem site oficial, uma autobiografia - The Boy Who Harnessed the Wind (O Menino que Domou o Vento, ainda inédito no Brasil) - e um documentário a caminho. O pontapé de tamanho sucesso se deve a uma junção de miséria, dedicação, senso de oportunidade e uma oferta generosa de lixo.
Em termos de geração e consumo de energia elétrica, o Malauí é o 138º país do mundo

Uma seca terrível no ano 2000 deixou grande parte da população do Malauí em situação desesperadora. Com as colheitas reduzidas drasticamente, as pessoas começaram a passar fome. "Meus familiares e vizinhos foram forçados a cavar o chão pra achar raízes, cascas de banana ou qualquer outra coisa pra forrar o estômago", diz Kamkwamba. A miséria o impediu de continuar na escola, que exigia a taxa anual de US$ 80. Se seguisse a lógica que vitima muitos rapazes na mesma situação, o destino dele estava definido: "Se você não está na escola, vai virar um fazendeiro. E um fazendeiro não controla a própria vida; ele depende do sol e da chuva, do preço da semente e do fertilizante" , diz Kamkwamba.

Para escapar dessa sentença, começou a frequentar uma biblioteca comunitária a 2 km de sua casa. No meio de três estantes com livros doados pelo Reino Unido, EUA, Zâmbia e Zimbábue, Kamkwamba encontrou obras de ciências. Em particular, duas de física. A primeira explicava como funcionam motores e geradores. "Eu não entendia inglês muito bem, então associava palavras e imagens e aprendi física básica." O outro livro se chamava Usando Energia, tinha moinhos na capa e afirmava que eles podiam bombear água e gerar eletricidade. "Bombear um poço significava irrigar, e meu pai podia ter duas colheitas por ano. Nunca mais passaríamos fome! Então decidi construir um daqueles moinhos."

Você está fumando muita maconha. Tá ficando maluco." Era isso que Kamkwamba ouvia enquanto carregava sucata e canos para seu projeto. "Não consegui encontrar todas as peças para uma bomba d'água, então passei a produzir um moinho que gerasse eletricidade. " Seu primo Geoffrey e seu amigo Gilbert o ajudaram, e após dois meses as pás giravam. O gerador era um dínamo de bicicleta que produzia 12 volts, suficientes para acender uma lâmpada. As pessoas próximas a ele só acreditaram em sua conquista quando ele ligou um rádio, que na hora tocou reggae nacional. "Fiquei muito feliz. Finalmente as pessoas reconheceram que eu não estava louco."

"Conseguimos energia para quatro lâmpadas, e as pessoas começaram a vir carregar seus celulares", diz. No Malauí, a companhia telefônica se recusou a fornecer infraestrutura para as vilas, e as empresas de celulares chegaram com torres de transmissão e baratearam os aparelhos. Por isso, hoje há mais de um milhão de aparelhos celulares no país, uma média de oito para cada cem habitantes.

"Bombear um poço significava irrigar. meu pai podia ter duas colheitas por ano. Nunca mais passaríamos fome! Então decidi construir um daqueles moinhos."

A história chegou aos ouvidos do diretor da ONG que mantinha a biblioteca. Ele trouxe a imprensa, e o menino foi destaque no jornal local. E daí alcançou o diretor do programa TEDGlobal, uma organização que divulga ideias criativas e inovadoras que convidou Kamkwamba para uma conferência na Tanzânia. O jovem aumentou o primeiro moinho para 12 metros de altura e construiu outro que bombeia água para irrigação. "Agora posso ler à noite, e minha família pode irrigar a plantação", diz.
Depois de cinco anos, com ajuda daqueles que descobriram sua história, Kamkwamba voltou à escola. Passou por duas instituições no Malauí, estudou durante as férias no Reino Unido e agora cursa o segundo ano da African Leadership Academy, instituição em Johannesburgo que reúne estudantes de 42 países com o intuito de formar a próxima leva de líderes da África.
Apesar de não ter mudado em nada a sua humildade, o sucesso e as oportunidades de estudo tornaram mais ambiciosos os planos de Kamkuamba: "Quero voltar ao Malauí e botar energia barata e renovável nas vilas. E implementar bombas d'água em todas as cidades. Em vez de esperar o governo trazer a eletricidade, vamos construir moinhos de vento e fazê-la nós mesmos".


Escrito por William Kamkwamba em conjunto com o jornalista Bryan Mealer, The Boy Who Harnessed the Wind foi lançado em 29 de setembro nos EUA e ficou entre os dez mais da livraria virtual Amazon
Confira a entrevista com William Kamkwamba:
http://revistagalil eu.globo. com/Revista/ Galileu/1, ,EDG87250- 8489,00.htmL

16 de fevereiro de 2010

O carnaval, o futebol e a torcida

Sou bastante intrigada com as torcidas deste país. Não falo só das de futebol, mas das Escolas de Samba e até as dos políticos. Quem nunca viu gente torcendo fanaticamente pelo Lula (ai, ai) ou, recentemente, pelo Gabeira aqui no Rio?
Eu só torço por esportes, nunca consegui eleger, no carnaval, uma escola para torcer. Meus amigos têm suas preferências, uns gostam da Portela, outros da Mangueira, Beija Flor e por aí vai. Mas eu nunca consegui torcer dessa forma. No máximo, se assisto ao desfile, torço por aquela que eu mais gostei, a que teve mais a ver comigo.
Este ano, no domingo, fui à Sapucaí. Programinha divertido, porém, arquibancadas nunca mais. Juro que passei a desejar mais conforto pra minha bunda de alguns anos pra cá. E assisti ao desfile todo, até de manhã. Claro que elegi minha favorita, a Unidos da Tijuca, não pela escola em si, mas pelo seu carnavalesco, o Paulo Barros. Desde o desfile cujo ano não lembro, em que ele colocou um monte de gente fazendo um DNA gigante, virei sua fã. De lá pra cá, sempre desejei assistir a um desfile dele, não importando em que escola ele estivesse.
E fiquei realmente, muito encantada. Não entendo tanto dos critérios julgadores, mas a forma com que ele amarra o conceito do enredo e tece o desfile, me surpreende. Nada excessivamente luxuoso, nada fora de lugar, tudo apenas adequado. E inteligentemente bonito.
Mas também não era dele que eu queria falar, minha história hoje são as torcidas.
As de futebol são dramáticas. Ô, gente ruinzinha de lidar. Flamenguistas odiando vascaínos e vice versa. Tricolores contra botafoguenses, brigas gerais, assassinatos, até. Uma rivalidade que não consegue ser sadia, aliás, existe alguma que seja?
Convivo com um colega de trabalho que é tricolor. Ele jura que não é "doente", mas depois do último Fla Flu, o cara surtou. Revelou-se sua verdadeira personalidade fanática e ele despejou todos os impropérios contra o Flamengo e, contra mim, até! Porque sou flamenguista e não escondo de ninguém, talvez isso o tenha ofendido, já que o Fluminense perdeu de virada e com um jogador a mais.
Já namorei muita gente vascaína, e tive alguém que muito me decepcionou, justamente por demonstrar um ódio irracional pelo Flamengo, ódio esse que acabava me atingindo já que eu era uma torcedora rival. Comentários, palavras grosseiras, atitudes que mais pareciam inveja, enfim. Daí eu pergunto, pra que?
Também já namorei flamenguistas, e alguém em especial, também não me passou uma coisa muito sadia. Da mesma forma, odiava todos que não eram Flamengo, referia-se aos outros como "a corja". Coisa mais feia, essas pessoas não percebem como perdem o encanto com uma postura tão arrogante e intolerante?
Por isso, sabem porque as torcidas das escolas de samba são infinitamente mais saudáveis? Porque quem torce pela Beija Flor, se empolga com a Mangueira. Quem adora a Portela, aplaude a Viradouro. Isso é bacana, é a democracia do samba e deveria se estender a todas as relações humanas.

O carro do DNA - Tijuca, 2004