26 de novembro de 2009

A moça, a saia, a faculdade

Tem tempo que eu queria escrever sobre aquele incidente da moça da saia curtinha na Unibam. Que história mais idiota, tanto o fato em si como todos os envolvidos. Aí, hoje uma amiga muito inteligente me enviou um e-mail com esse texto que transcrevo abaixo. E ele tem tudo a ver com o que eu penso, e se tivesse escrito algo sobre o caso, seria quase exatamente com a idéia do autor. Achei ótimo.

"SÃO PAULO (é o fim) – Fiz faculdade entre 1982 e 1985. Faculdade de riquinho, FAAP. Não havia sinal de movimento estudantil ali. Na verdade, com o fim da ditadura, a eleição de Tancredo e a perspectiva de diretas em 1989, o movimento estudantil se enfraqueceu e, sendo bem sincero, foi sumindo aos poucos. Minha atividade mais próxima da subversão foi vender sanduíches naturais para arrecadar dinheiro para uma festa das Diretas.

Hoje, as entidades representativas dos estudantes servem para emitir carteirinhas para a turba pagar meia-entrada em shows e no cinema. Sem um inimigo claro, que no caso das gerações imediatamente anteriores à minha era o governo militar, ficamos sem ter do que reclamar. Porque, no fundo, por conta da politização desses movimentos todos, a questão educacional foi colocada de lado por muitos anos, e deixou de ser prioridade.

Já como repórter, cheguei a cobrir algumas confusões na USP na segunda metade dos anos 80. Sem querer simplificar demais, mas recorrendo ao que minha memória me permite lembrar, o tema central era o aumento do preço do bandejão nos refeitórios da universidade. Deu greve e tudo. Muito pouco. Ainda mais porque, como se sabe, boa parte dos que conseguem chegar à USP vêm de escolas particulares, e o preço do bandejão não chegava a afetar seriamente o orçamento de ninguém.

O caso dessa moça de minissaia da Uniban poderia ser um bom motivo para despertar algum tipo de reação na molecada. De repúdio aos que ofenderam a menina, de reflexão sobre os rumos da universidade, de protesto contra sua expulsão, de perplexidade com o recuo da reitoria por razões obviamente mercantis.

Reitoria… Era palavra respeitada, antigamente. Hoje, os reitores dessas espeluncas mal falam português. A transformação do ambiente universitário em quitandas que vendem diplomas é assustadora. E os estudantes são coniventes. Não exigem ensino de qualidade, compromisso com a educação, porra nenhuma. Querem se formar logo, se possível pagando pouco, e dane-se o mundo.

Fico espantado ao observar como pensa e age essa juventude urbana entre 20 e 25 anos. São fascistóides, hedonistas, individualistas, retardados ao cubo. Basta ver o perfil da menina da minissaia no Orkut. Uma completa debilóide, mas nada diferente tenho certeza, de seus colegas de faculdade (vejam as “comunidades” às quais ela pertence; coisas como “Gosto de causar, e daí?”, “Sou loira sim, quem me aguenta?”, “Para de falar e me beija logo”, coisas do tipo). O que, evidentemente, não dá a ninguém o direito de fazer o que fizeram com ela. Até porque são todos iguais, idênticos, tontos, despreparados, sem noção.

Aí a Uniban expulsa a menina, dizendo que os alunos que a chamavam de “puta” e queriam bater na coitada estavam “defendendo o ambiente escolar”. Puta que pariu! Como é que pode? Como podem adultos, “educadores”, que teoricamente têm um pouco mais de neurônios em funcionamento, reduzirem a questão a isso? E criticarem a menina porque ela se veste assim ou assado, anda rebolando, “se insinua”?

Pior: muitos, mas muitos mesmo, alunos defenderam a expulsão. Acham que a menina é uma vagabunda que provoca os colegas. Bando de animais, intolerantes, sádicos, hostis, agressivos. Eu nunca deixaria um filho meu estudar numa universidade frequentada por esse tipo de gente e dirigida por cretinos do naipe dos que assinaram a expulsão e, depois, revogaram-na sem revelar o motivo — aquele que nunca será admitido, o prejuízo à imagem dessa porcaria de empresa, sim, empresa, e das mais lucrativas, porque chamar um negócio desses de “universidade” é desmoralizar a palavra.

O Brasil está fodido com essas gerações que vêm por aí. Um caso desses, que poderia trazer à tona discussões importantes sobre o comportamento dos jovens, suas angústias, seus rumos, resume-se ao tamanho da saia da moça e ao seu comportamento “inadequado”, seja lá o que for isso. A educação, neste país, tem sido negligenciada de forma criminosa há décadas. O governo poderia começar a limpar a área por essas fábricas de diploma, que surgem aos montes sem que ninguém se preocupe com o tipo de gente que está à frente delas.

O que se vê hoje, graças a essas faculdades privadas de esquina, sem história e princípios, é uma população cada vez maior de “nível superior” sem nível algum. Um desastre completo. Gente que não pensa, não argumenta, não lê, não raciocina coletivamente, se comporta como gado raivoso, passa o dia punhetando no Orkut e no MSN, escreve “aki”, “facu”, “xurras”, “naum”, “huahsuahsua”, um bando de tontos desperdiçando os melhores anos de suas vidas com uma existência vazia, um vácuo intelectual, sob o olhar perplexo de gerações, como a minha, que um dia sonharam em fazer um mundo melhor e, definitivamente, não conseguiram.

Somos todos culpados, no fim. Incluo-me."

Autor: Flavio Gomes - Categoria(s): Brasil

18 de novembro de 2009

Supertramp

Não sei onde eu estava com a cabeça que nunca mais havia escutado Supertramp. Supertramp me remete a um tempo glorioso, leve e feliz. Um tempo de sonhos que se concretizavam, mesmo que pela metade. Já estava de bom tamanho. Na nossa inocência tudo era possível, e nos contentávamos com tão pouco... Olhar as montanhas e ouvir a chuva, voar na estrada, andar sobre o barro, perceber todos os perfumes possíveis, ver a cor real do céu.
Será que esse tempo já se passou? Pra muita gente, creio que sim. Vejo muitos de nós nem lembrar que Supertramp existe, quiçá uma vez existiu. Mas sei que, se o ouvirem, vão sentir novamente a mesma coisa, porque é impossível não guardar dentro da gente uma lembrança tão boa. E acredito com todas as forças que é possível, sim, viver isso tudo novamente.
Agora o que eu desejo, não é voltar no tempo, mas voltar a sentir da mesma forma. Não preciso de paixões, nem de namoros, nem de dinheiro. Só quero a minha sensibilidade à flor da pele para captar todas as emoções boas que a vida e o mundo podem me dar. Mas seria bom que mais alguém pudesse estar aberto pra mesma coisa. Seria bom que pessoas soubessem se libertar e sonhar, rompendo os laços do concreto que se tornou as suas vidas e, TCHAM, voltarem a ser maleáveis. Chega de gente contida, que não quer dançar, que tem vergonha de rir com vontade, que se preocupa com os níveis, que dá valor às aparências, que não tem a elegância da sinceridade amena. Não quero mais esse povo perto de mim. Assim como Lenine cantou, só quero estar perto de quem me interessa, e me interessa quem gosta de ouvir Supertramp.

15 de novembro de 2009

A fé alheia

A forma como algumas pessoas lidam com a fé é algo que gera uma demanda, às vezes, tão chatinha que me dá preguiça. Porque elas precisam me convencer de sua própria fé? E porque precisam, igualmente, me convencer a seguir essa fé que só diz respeito a elas? É mais ou menos assim: eu gosto de beber café, você não gosta. Porque eu preciso te convencer de que o café é gostoso, faz bem, enfim... porque preciso que você BEBA o café??? Mutas vezes, imagino que esse convencimento seja mais para mim mesma do que para você. É como se eu precisasse do seu apoio e da sua cumplicidade para aceitar o fato de eu gostar tanto de café. Para acreditar que o café é bom e justificar meu vício por ele, você também precisa gostar. E beber, tanto quanto eu.
É assim que uns e outros se comportam em relação à fé. Tenho amigos que se exaltam pra me convencer de certas coisas que não entram na minha cabeça de jeito nenhum, e parece até que eles sabem a hora exata de me aborrecer com essas tentativas. Aproveitam o momento em que estou mais frágil para virem com aquele discurso, ora veemente, ora subliminar. E é muito chato.
Quando escuto isso de estranhos, finjo que concordo porque sei que a conversa vai acabar na próxima estação ou no próximo ponto (se a sorte permitir que o interlocutor ou eu saltemos do ônibus ou do metrô). Quando é com alguém do ambiente de trabalho, nem sempre evito o confronto, mantenho minhas teorias e discordo, e aquilo não gera tantos agravantes, pois colega de trabalho não é amigo. Mas quando são os amigos que fazem isso, aí a coisa fica complicada. Porque com amigo a gente tem liberdade de discordar e discutir. Podemos nos exaltar e até brigar, e daí, rola o desgaste.
Tem alguns meses que venho convivendo com um problema de saúde desconfortável, mas não grave. O tratamento gera mais problemas que a doença em si, e isso se agrava pela demora dos exames porque os médicos estão num congresso, porque o plano de saúde não tem médicos tão competentes, porque existe uma fila para se marcar uma simples consulta, enfim. Mas basta essa chateação para alguns amigos começarem com o famigerado "achismo". Eu já estou chateada com o problema, procuro um amigo pra conversar e escuto logo de cara: você precisa ler aquele livro O Segredo. Você precisa cuidar da sua cabeça, pois a mente é que fabrica as doenças. Tudo bem, acredito em doenças psicossomáticas e tenho 80% de certeza de que o meu problema é causado pelo stress. Mas daí a achar que todas a doenças são causadas pelo cérebro, é um pouco demais. E, sendo um problema psicossomático, preciso de um psiquiatra, não de um livro de auto ajuda.
Uma amiga, justificando essa "fé", chegou a questionar como um analgésico saberia onde iria atuar, em caso de dor. Como assim? O analgésico pensa? Foi a forma dela me convencer que, na verdade, o fato de meu cérebro já saber que eu estava tomando um remédio para dor, iria trabalhar na tentativa de acabar com aquela dor. Isso porque alguns autores escreveram que os placebos, usados em experiências medicamentosas, teriam o mesmo efeito que a droga em si. Então tá, ninguém precisa mais tomar remédio, basta mentalizar que os milagres acontecerão. Se você está com desnutrição e deficiência de vitamina B12, mentalize que ela será produzida naturalmente no seu organismo. Melhor, ela vai cair do céu e você nem precisa comer nada de origem animal para repor esse estoque (a vitamina B12 somente é encontrada em alimentos de origem animal, como carne, leite e ovos).
Outra amiga, ao ouvir minhas queixas, veio com a seguinte frase: eu acho que a sua energia não está legal, e você precisa fazer alguma coisa para melhorá-la. Tá, minha energia não está legal, então tenho que procurar a Light, e não o médico. Já outra insiste em me levar a um lugar pra desobstruir meus caminhos. Nesse caso teria que abrir mão da medicina e buscar um pai de santo...
Engraçado, todas essas amigas têm problemas de saúde, de trabalho, de dinheiro e de relacionamentos, não necessariamente nessa ordem, mas já que elas fazem tanto uso dessa fé que tanto pregam, será que seus problemas seriam menos graves que o meu? Porque eu preciso me convencer da mesma coisa em que elas acreditam? E porque elas AINDA têm problemas???
Por isso a analogia com a história do café. É mais fácil o ser humano se convencer de algo se tiver mais alguém com ele. É mais confortável uma pessoa que não goste de café, bebê-lo em companhia de outra, porque dessa forma uma conforta a outra e assim caminha a humanidade.

2 de novembro de 2009

Parada do orgulho gay

Sempre apoiei a iniciativa dessa passeata, mesmo sabendo que para a maioria dos seus participantes, a defesa do orgulho passa longe, e muitos ali nem sabem na verdade as razões desse evento. Desconhecem sua origem, sua história e não estão nem aí para o que acontece com eles e seus semelhantes em consequência do preconceito e da intolerância que ainda assola, infelizmente, a todos nós, seres humanos.
Tem a galera que vai pra levantar, literalmente, a bandeira (por sinal bem grande, a do arco íris). Tem a galera que resolve se expor só embaixo dela, a que se expõe explicitamente do lado de fora e às vistas de todos, tem a que vai só olhar, a que vai paquerar, a que vai pra dançar, enfim. Mas creio que muitos nem sairam do armário, estão ali como curiosos e não têm nenhuma coragem de lutar contra o preconceito, mesmo com apenas palavras de contestação a ele.
Já vi gente falar mal de gays para pessoas que são gays sem saber que elas o são. E elas sequer se calaramm, ainda concordaram com o discurso intolerante e com aquela cara de hipocrisia amarela. Achei muito feio, porque penso que ninguém precisa sair por aí dizendo com que sexo gosta de se relacionar, (até porque isso não faz a menor diferença) mas se omitir diante de uma opinião preconceituosa é, no mínimo, covardia.
A intolerância faz parte da história, e se não houvesse ela, não haveria vitórias. Os negros conseguiram, as mulheres conseguiram, e acredito que os gays também conseguirão, e num futuro próximo! O problema é que talvez o preconceito sempre exista, mesmo que ao contrário. Alguém já imaginou como seria uma sociedade composta na maioria de homessexuais que odiassem os héteros? Ou se os brancos fossem discriminados pelos negros e os homens submissos às mulheres?
Não basta só levantar a bandeira do orgulho gay, do orgulho negro, do feminino, do religioso etc. A bandeira, seja qual forem as suas cores, deve ser a da luta contra o preconceito, e este é único. Não importa a quem ele se dirija, ele simplesmente não deveria mais existir.


O anjo que não queria voar, apenas dançar


Êpa, caiu o cílio


Michael Jackson não morreu. Ele apenas deu um tempo e resolveu aparecer por aqui...


Diversão solitária na multidão

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Indivíduo devidamente alcolizado indagando para o policial se as "meninas" eram, de fato, meninas...


Tamancos lejones




A mulher gato