27 de junho de 2010

Saber dizer não

Eu achava que havia aprendido bem a arte de dizer não, mas enganei-me. Preciso melhorar muito, estudar mais, pesquisar, treinar, enfim... O dizer não faz parte e pode ser responsável por nossa sobrevivência.
É importantíssimo dizer não àquela pessoa que nos deseja e de quem não estamos tão a fim. Naquele momento, pode não parecer educado a nós, e pro outro, certamente é horrível mas é tão necessário... Isso evita problemas posteriores bem mais desagradáveis.
Saber dizer não ao convite de permanecer num lugar, sabendo a hora certa de ir embora. Saber negar aquela bebida que a maioria degusta com tanto prazer e a gente detesta, mas aceita beber só um pouquinho pelo menos para brindar, como se fosse um crime brindar apenas com água.
Declinar de ir a um lugar porque o outro insiste tanto, apesar da chuva torrencial e da noite fria e quando a gente está enroladinho no sofá, esperando aquele filme que tanto queríamos assistir.
É claro que corremos riscos toda vez que dizemos não. Na verdade, existe o medo de perder a ocasião, o evento e até a pessoa, seja esta um amigo ou amante. Não é qualquer um que aceita o não como algo natural. E muitas vezes, tais pessoas estão tão desesperadas existencialmente que não conseguem se importar com os motivos pelos quais negamos seus convites ou investidas.
Imagino que talvez não existimos pra elas como seres independentes. Temos que fazer o que elas querem, o que esperam de nós, como se tivéssemos a obrigatoriedade de satisfazê-las independente da nossa vontade. Como se as amássemos incondicionalmente, mas acontece que eu não creio muito no amor incondicional que não seja o de mãe, e mesmo assim, nem são todas que o têm.
Então, eu realmente preciso melhorar o meu "não". Mão quero ir a esse lugar, não gosto dessa bebida, não estou a fim de você, e por aí vai. Pode parecer grosseiro, mas alguém me disse uma vez para ligar o "foda-se" caso a pessoa venha a se debater de frustração diante de nossa negativa. Não é problema nosso quando o outro não é capaz de respeitar nossas escolhas. Não temos culpa se o outro não entende nossa falta de vontade ou desejo e nem encara isso como uma coisa natural. E se assim for, sofreremos consequências sim, mas aí já teremos a certeza para tomar a decisão de descartar essas pessoas, uma vez que elas não nos enxergam como seres humanos que somos, e sim, objetos prontos a fazerem tudo o que elas querem.
Algumas vezes, dizer não pode trazer a infelicidade a alguém, mas dizer sempre sim, certamente é prejudicial a saúde.

16 de junho de 2010

O Esnobe e o elegante

Esse texto poderia ser uma crônica, talvez um conto ou até um poema, mas é uma simples narrativa baseada em fatos. Fatos que eu vinha registrando até pouco tempo em intervalos regulares da minha vida e em determinadas situações. Numa delas, a coisa fluiu de forma a me permitir interpretá-la e decodificá-la em palavras, de forma que se tornasse compreensível a quem o lesse.
Surgiu um embate quando uma mulher assumiu determinado espaço num grupo de trabalho. isso porque ela veio de fora, não fazia parte antes daquele grupo, e porque era "diferente" dos demais. Logo, passou a ser discriminada. Lhe faziam caras feias, falavam mal dela pelas suas costas e todos a achavam insuportável. Perguntei o porquê de tanta rejeição, e a resposta era quase unânime: ela é esnobe!
Claro que houve outros adjetivos semelhantes como "metida", "cheia de si" ou "dona da cocada". Mas isso não me esclarecia muita coisa, na verdade, absolutamente nada.
Algo que ela tenha feito errado? Não, diziam-me. Alguma decisão que ela tomou foi absurda? Também não. Alguma consequência ruim para seus atos? Nenhuma. Então, porque tanta hostilidade? Ah, ela é esnobe. Simplesmente, esnobe.
Daí passei a prestar mais atenção na dita cuja, tentando descobrir o foco do suposto esnobismo, e cheguei a uma conclusão muito básica. Era não era esnobe, era elegante.
Elegância não tem a ver somente com aparência. Não se trata apenas de vestir roupas chiques, ter boas maneiras ou usar palavras sofisticadas. Elegância pode ser tudo isso se a pessoa também tiver determinada postura. Ninguém precisa ter muito dinheiro pra ser elegante, basta o bom senso e o velho apoio da educação.
No caso citado, a elegância da mulher contrastava com a falta de elegância dos demais, de uma forma geral. As pessoas daquele grupo não tinham educação, e lhes faltava bom senso.
Pois enquanto eles falavam alto, quase gritando uns com os outros, ela falava baixinho, num tom de voz suave e delicado. Quando eles faziam alguma coisa errado, punham a culpa uns nos outros, ou sempre buscavam uma justificativa para seus erros. Ela não. Ela admitia seu erro, assumia sua ignorância no assunto e buscava uma forma de aprender a não errar novamente. Corajosamente humilde.
Ao contrário do grupo, ela também não fazia uso da falsidade, sorrindo quando não gostava de alguma coisa. Diferente dos demais, ela sabia respeitar limitações. Enquanto a maioria usava palavras vulgares para algo ruim ou mal feito, ela usava adjetivos mais suaves e coerentes, jamais um palavrão.
Eles costumavam conversar sobre o Big Brother, novelas, até sacanagem, e ela falava sobre cinema, livros e música.
Ela não gosta de funk!" Ah, mas ela escuta Bach... "o que é Bach? Algum batidão?
A coisa era assim, e me trouxe uma lição. Pessoas grosseiras não gostam de pessoas elegantes porque não se identificam com elas. E não se identificam, porque desconhecem o que é ser elegante.
Pessoas grosseiras medem as outras pelo que as outras têm, ou aparentam ter. E se estas (que têm) forem tão grosseiras quanto elas, podem até ser legais. Mas, se tiverem um pouco de educação e bom senso, pronto, são esnobes.