24 de outubro de 2009

A escola, a novela e o racismo

Ois, cá estou novamente. E ainda sem banda larga, pois a assistência técnica deve ter gostado de hospedar o meu modem, e como eles não têm previsão de entrega, penso que terei que apelar para o Procon... mais essa.
Bem, essa semana que passou foi relevante, porque assisti a como se processa o racismo, de uma forma nem tão velada como dizem por aí. A professora de alfabetização de uma determinada escola aqui do Rio enviou para onde eu trabalho, um material que vai se transformar em apostilas para suas crianças. Esse material é bastante ilustrado, e geralmente sou eu quem faço a maioria dessas ilustrações. Algumas eu crio e outras que já existem, tenho que modificar para se adequarem aos textos da apostila. E eis que minha supervisora me aparece com uma apostila aberta numa página em que o desenho de um personagem negro tinha uma anotação feita pela tal professora: "trocar desenho".
Tá, trocar este desenho por qual outro? Não, troca só o personagem negro por um branco.
Li o texto novamente para entender o porquê daquela troca de cor de pele; o personagem negro se chamava Mestre André, tocava instrumentos e tinha uma loja deles.
Especulamos, então, sobre o assunto. Mestre André pode ser nome de um cara que pratica capoeira. Também pode ser um mestre de obras. Um mestre cuca. Um mestre de salas de aula. Então, PQP, qualquer ofício destes pode ser desempenhado tanto por negros quanto por brancos, e por que diabos aquela professora cismou com o pretinho???
NUma realidade como a nossa, brasileiros feitos por mistura de raças, como ignorar os negros num livro escolar? Seria o mesmo que ignorar as crianças negras na sala de aula, e eu me senti absolutamente impotente por ter que fazer aquela tarefa. Cheguei a pensar em trocar o negrinho pelo Pequeno Príncipe, como uma forma de ironizar o preconceito, mas entendi que meu emprego estava em jogo e então, fiz um lourinho de olhos azuis.
Isso tudo só serviu para me dar mais certeza dessa coisa nojenta que é o racismo, e como ele existe por baixo das boas maneiras e da boa educação. Conheço gente que diz que não é racista, mas vendo Camila Pitanga no Faustão, fica indagando como ela pode ser tão bonita e ter um cabelo tão "bom", já que o pai é negro mesmo. "Ah, mas a mãe tem a pele mais clara..."
Também já ouvi a máxima daquele cara que que tem um amigo que é "pretinho" mas é legal. E também do sujeito que odeia negros mas não dispensa uma negra gostosona.
Hoje muitas revistas estampam a Taís Araujo Maravilhosa na capa. São inúmeras reportagens comentando o fato de duas novelas da Globo, agora, terem protagonistas negras, pois a Camila Pitanga também faz a mocinha na novela das seis. Legal pra elas e pra todo mundo que gosta de novela, mas tenho um pouco de preguiça dessa supervalorização do fato delas elas serem negras e terem um papel de destaque. Ás vezes me soa como "tadinhas, elas merecem, afinal são negras, devem ter sofrido tanto..."
Prefiro achar que são lindas e boas atrizes, pois nunca acreditei que uma raça pudesse determinar a competência de um ser humano.
Mas o interessante disso tudo é que, quando eu era criança, havia uma novela em preto e branco com o Sérgio Cardoso fazendo o papel de um negro. O nome era A Cabana do Pai Tomás, e acreditem, ele se pintava de negro para representar aquele papel.

4 de outubro de 2009

A máquina de abraçar

Esse foi o nome da peça que eu assisti nesta última sexta, no galpão do espaço cultural Tom Jobim, no Jardim Botânico. Não sou crítica de teatro nem de nada, mas tive que aproveitar meu espaço aqui pra falar dos meus sentimentos em relação ao espetáculo.
O texto do espanhol José Sanches Sinisterra é sobre as emoções autistas. Sim, ele invoca o autismo de uma personagem pra falar do afeto, o que me soou muito interessante. Na história, a personagem autista ganhara de presente uma máquina de abraçar. Porque, como todos sabem, os autistas são aqueles que vivem num mundo distante, particular, e têm dificuldades de lidar com o afeto. Por isso, a máquina chegou com a proposta de melhorar essa parte. Ela proporcionava o abraço na medida certa, no momento em que este era desejado ou necessitado.
Achei aquilo ótimo! Quantas vezes desejamos um abraço e ele não vem? Ou vem muito fraco, simplório, quando nossa intenção era um GRANDE abraço... E quando vem aquele abraço exagerado de alguém que nem temos tanta intenção de abraçar?
Transferi essa coisa do abraço, pro afeto em si. É a mesma coisa. Já desejei o afeto de pessoas que não me deram, e demorei a entender que essas pessoas não o deram, porque não o tinham para dar. Depois descobri que muitas vezes eu também já escasseei meu próprio afeto em relação a outras pessoas. Como também já fui sufocada pelo afeto excessivo, pois não precisava de tanto.
Todo mundo é assim. Mas nem todos se dão conta disso, e o que rola, então, é a chata daquela cobrança em relação ao desafetuoso de plantão. Pô, eu dou tanto carinho e quase não recebo nada em troca... eu dou tanta atenção e nunca me escutam... e por aí vai.
Acho que quando o cara imaginou essa "máquina de abraçar", ou de afeto, no meu entender, quis mostrar um tanto dessa vida louca e meio vazia de amor que levamos hoje em dia. Será necessário alguém inventar, realmente, uma parafernália dessas porque, haja visto, já vem acontecendo muita coisa nesse sentido de suprir a solidão amorosa. Ou alguém vai negar que, na internet, as salas de bate papo fazem parte desse pacote? As pessoas, na grande maioria, entram para buscar aquilo que lhes interessa, ou como a personagem autista, a pessoa na medida certa. Mesmo sabendo que essa pessoa não existe. Procura-se homens e mulheres bonitos, inteligentes, magros, românticos, que morem sozinhos, profissionais bem sucedidos, que tenham uma boa condição finaceira (essa condição é fundamental), sem filhos, sem vícios, enfim. Querem tudo isso mas NUNCA têm tudo isso pra dar.
Imagino que no futuro, dada a evolução da tecnologia e da engenharia genética, você vai acessar um chat e teclar com quem você desejar, de fato. Se quiser uma mulher igual a Gisele Bündchen, vai poder tê-la como médica, engenheira, atriz, morando sozinha, rica, sem filhos, sem cachorro, ou seja, você escolhe. Na verdade, tudo o que é conversado com ela ali, é processado num software qualquer e, após essa primeira interatividade, você usa o seu cartão de crédito e paga por ela. Sim, você vai ter que pagar. A partir do registro da conversa, a empresa pegará um daqueles clones que ficam no almoxarifado do laboratório, programa e pronto. Dali a alguns dias a "Gisele" te telefona e marca um encontro. Simples como a Oi...
Confesso que me assusto com essa galera que exige tantas coisas com o preciosismo da "medida" certa, principalmente a galera do bate papo. Pois se até hoje nunca compreendi muito bem nem o sexo virtual...

Imigrantes

Recebi de uma amiga, e concordo!
"Este cartaz, veiculado na Espanha por imigrantes de língua portuguesa, é um belo “tapa de luvas” naqueles que insistem em discriminar as pessoas..."