30 de novembro de 2010

A Covardia

É surpreendente quando paramos para pensar nas consequências das atitudes das pessoas, ou, mais especificamente neste post, na falta delas. E por que uma pessoa deixa de ter determinada atitude? Entre tantos motivos, por absoluta covardia ou omissão. Omissões podem ser encaradas como covardia, dependendo do caso, é claro.
Venho analisando em como nos sentimos diante de atos omissos de pessoas que conhecemos e de quem esperávamos franqueza suficiente para nos trazer a tranquilidade de uma relação. Qualquer relação. Todos gostamos de confiar em alguém, seja em nosso namorado, amigo, parente ou colega de trabalho. Até em nosso patrão.
Mas o que fazer quando esse alguém se esconde, quando ele deixa de nos dizer aquilo que esperamos que ele diga? E quando, justamente, aquilo que precisamos ouvir é fundamental para que possamos continuar considerando-o como uma pessoa presente em nossa vida?
Alguém que tenha se tornado importante para nós merece prevalecer ao nosso lado.
Mas e se esse alguém desaparece de repente? Você sabe que a pessoa está bem, viva, saudável, mas se nega a responder nossos e-mails ou telefonemas, e isso assim, do dia pra noite.
Tentamos desesperadamente lembrar um possível motivo para isso, e quanto mais tentamos, mais entramos no labirinto das suposições, sem conseguir nada. Aí vem a paranóia: será que eu bebi demais e fiz alguma besteira na última vez em que estive com a criatura? Meu Deus, será uma amnésia alcólica, daquelas que nos fazem esquecer de como chegamos em casa? O desespero passa para a tristeza, que evolui para a raiva - ligamos o "foda-se, então", porque é muito ruim quando alguém deixa de falar conosco dessa forma.
Já escrevi aqui que magoamos os outros até sem querer, mas isso pode ser perfeitamente revertido quando existe franqueza. Daquele que foi magoado e teve a coragem de chamar à atenção, como do que magoou, para reconhecer seu erro. E essa é a via de mão dupla que eu conheço para todos os tipos de relação que um ser humano pode viver. A relação com o namorado, o amigo, o parente e o patrão. Acho-a necessária até entre desconhecidos.
Infelizmente, só posso considerar que esse "desaparecimento" é fruto do que citei lá em cima. A omissão gerada pela falta da franqueza em nos dizer o que fizemos de errado, e por que estamos sendo punidos, descartados de um baralho que poderia fazer muitos jogos.
É uma atitude cruel e covarde, porque nos priva de alguém a quem queremos bem, e nos deixa numa cadeia de dúvidas sem nenhuma chave por perto. Tremenda injustiça.
Mas, apesar dã tolice dessas pessoas, a vida segue, e eu sei que vamos cruzar ainda muitas vezes com esses avestruzes. Temos que encarar isso como se estivéssemos passeando num safari, vendo-os todos enfiando suas cabeças em buracos no chão.

25 de novembro de 2010

Tempos de guerra

Faz muito tempo que não escrevo nada. Fiquei cansada, sei lá, faltava inspiração apesar dos assuntos não pararem de fluir durante esse tempo todo. Mas de uns dias pra cá eu vinha amadurecendo minhas idéias e a vontade de escrever veio retornando aos pouquinhos.
Hoje, especificamente, há algo para se falar, o caos em que a cidade está. Não tenho muito saco para assistir pela TV a incursão dos policiais na Vila Cruzeiro, nem gosto de ver os ônibus e carros incendiados pelas ruas. O fato é que fui dispensada do trabalho na hora do almoço, amigos meus também, e ninguém quer mais sair de casa.
Instigante, essa postura do medo. Medo do que pode acontecer se você por o pé na rua.
Penso nas pessoas que tiveram que sair por algum motivo urgente, e mesmo aquelas que não foram dispensadas de seus trabalhos, diante da iminência de um monte de loucos com garrafas de gasolina ou querosene prestes a destruir seu meio de transporte. Penso nos engarrafamentos causados por esses atos e pelas blitz que tomaram conta das ruas. Eu mesma, quando voltava para casa, peguei umas duas ´pelo caminho.
Daí, vêm os boatos. Hoje é quinta feira, e já se comenta que no sábado haverá um ataque em massa, dos bandidos. Fiquei triste, será a véspera do meu aniversário e já teve gente que, por conta desses acontecimentos, disse que talvez não compareça na festa de domingo.
Sempre imaginei como seria a festa de algum americano que faz aniversário no dia 11 de setembro. Um dia fúnebre, com certeza, e com mais certeza ainda, não gostaria que no meu dia 28 ocorresse algo dessa natureza. Mas, pelo andar da carruagem, as coisas por aqui podem muito bem evoluir para uma tragédia maior.
Mesmo assim, eu gosto de ser otimista, com todo o cuidado de não perder o foco na realidade. E também não gosto de assumir a postura da raiva e da violência, coisa que a maioria das pessoas vêm mostrando a muito tempo. Prova disso é quando escuto alguém comentar sobre o que a TV mostrou mais cedo: dezenas de traficantes fugindo da polícia, correndo por uma estrada que leva a Vila Cruzeiro ao morro do Alemão. E o comentário era de perplexidade, visto que nenhum policial os perseguiu e nenhum helicópttero sobrevoou o local atirando e matando a todos.
Confesso que quando vi a cena dos caras correndo, pensei no porquê da polícia não estar atrás deles, mas em momento algum imaginei um assassinato em massa.
Uma amiga explicou que aquilo foi uma tática de guerrilha, que a idéia era encurralar todos em algum lugar, mas depois pensei que o Complexo do Alemão é enorme, será muito mais difícil encontrar esses fugitivos por lá. Entretanto, tudo faz parte de um plano, pois o Governador disse que até dezembro o Alemão vai ser invadido pela polícia... Que seja, e será mais confusão, certamente.
Voltando à história da violência revanchista, não concordo em matar todo mundo, como não concordo com pena de morte. Se o tal helicóptero sobrevoasse aquele local e atirasse nos bandidos que por ela corriam, não seriam os policiais assassinos e igualmente bandidos? Então, para que uma polícia? Diante desse meu comentário fui julgada como uma daquelas pessoas que apóiam os direitos humanos dos marginais. Sei lá se sou assim, nunca pensei profundamente em nada disso. Só sei que não compro essa idéia do olho por olho, dente por dente e já li algo a respeito, todos ficariam cegos e banguelas.
Portanto, deixo a guerra para quem quiser estar nela, eu tô fora.