25 de abril de 2010

Publicidade

Quando eu resolvi trabalhar com desenho não tinha uma idéia precisa de tudo o que eu poderia fazer além de, simplesmente, desenhar. E um dos primeiros cursos que fiz nessa área foi o de desenho de propaganda. Sinceramente, havia algo em mim que não combinava muito com aquilo, pois tudo que dava grana era voltado para o consumo. Questionava-me a respeito de usar meu traço ou minhas idéias para vender produtos, muitas vezes fúteis, descartáveis, e que nada acrescentavam à condição humana.
Bom, isso era o meu idealismo na época e que, até hoje, não mudou muito. Tanto que fugi da publicidade e enveredei por outros caminhos, mesmo trabalhando com idéias e desenhos.
Todo mundo precisa sobreviver, mas ainda acredito que os melhores trabalhos, sejam quais forem as técnicas, valem pela sua idéia e seu conceito. E quando esse conceito é pro bem de todos e se vale da publicidade para ser exposto, aí eu admiro pra caramba! É o caso da propaganda bem aplicada, daquela que diz a que veio, que estimula, gera polêmica e faz todo mundo pensar.
Aqui vão uns exemplos legais.

SEGURANÇA NO TRÂNSITO










VIOLÊNCIA








RESPEITO AOS ANIMAIS














PRESERVAÇÃO AMBIENTAL














EXISTENCIAIS






19 de abril de 2010

O Cardeal e o Deputado

Tenho lido ultimamente, declarações esquisitas a respeito da liberdade sexual dos cidadãos, do Brasil e do mundo e mais precisamente, dos cidadãos gays. Recebi um e-mail relatando a declaração do Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, que afirmou na segunda-feira (12/04/2010) que é o “homossexualismo” (sic), e não o celibato, que deve ser relacionado à pedofilia.
Então tá, a culpa é toda dos gays, afinal, alguém tem que assumir isso.
O Brasil é um dos países onde mais se assassinam homossexuais. Chamar um cara de viado é pior do que xingar a sua mãe. Se ele é traído pela mulher, ganha chifres, vira corno e, se não der o troco, também pode ser considerado gay.
Estou cansada de discriminações, de viver essa inversão de valores, pois sei que, em alguns lugares um assassino talvez seja mais respeitado que um gay.
Aí veio também o deputado Jair Bolsonaro fazer coro a um general estúpido, dizendo ser inaceitável que os gays atuem nas forças armadas. Eles até podem ter outra profissão, mas quartel é "coisa de macho".
Existem gays que, certamente, não deviam estar num quartel, assim como milhares de heterossexuais. Até porque, na minha concepção, quartel é coisa de maluco. Mas pensamentos assim me assustam profundamente, pois até quando vai existir esse desrespeito a vida sexual de um ser humano?
O cardeal, na sua infeliz declaração, devia estar fazendo uma referência aos escabrosos fatos ocorridos na igreja católica, à pedofilia generalizada que lá se instalou desde que os primeiros padres abriram mão dos seus votos de celibato. Mas, dizendo isso, deu um tiro no próprio pé, pois pelo seu texto subentende-se que todos os praticantes pedófilos da igreja sejam também gays!
Definitavamente, cada vez mais concordo com aquele papo de que a religião é o freio do mundo, pois já vi homossexuais irem à igreja católica para se confessar. Ficava imaginando qual o grande pecado que contavam aos padres no escuro do confessionário. Se, para a igreja o homossexualismo é pecado, como deveriam ser as suas vidas tendo que lidar com isso o tempo todo...
Talvez os crentes encontraram uma solução melhor. Um que conheci e sendo gay, pagava rigorosamente o dízimo ao pastor. Ele acreditava seriamente que aquele dinheiro "compraria um pedacinho do céu", e dessa forma, podia continuar com seu homossexualismo sem tantos medos. Pra cada cara que ele ficasse, devia haver um tipo de cálculo, uns poderiam custar mais que outros e assim, o pastor enchia os bolsos enquanto ele esvaziava sua culpa.

12 de abril de 2010

Exigências

Há muito tempo eu não conversava com uma amiga, e esse fim de semana nos reaproximamos um pouco. No papo, disse a ela que eu andava meio exigente, e logo ouvi aquele huuummm de crítica. Tem gente que tem medo de pessoas exigentes. Também tenho, principalmente quando é o chefe.... Alguns deles podem te dar uma bronca por algo que julgam estar errado, mas você sabe que está certo. E aí, vai encarar?
Eu já encarei muitos chefes, como também já deixei passar, depende do meu estado de espírito no momento.
Mas minha questão é outra, pois disse a minha amiga que eu andava sem paciência para algumas pessoas que eu considerava chatinhas, no entanto, sou obrigada a lidar com elas.
Foi aí que ela questionou: será que você não está muito exigente?
Na hora, não quis entrar em detalhes, mas hoje, lembrando do nosso papo, refleti sobre isso, até preocupada em estar me tornando alguém que exige demais dos outros. Hoje, pensando nessas pessoas que cruzaram meu caminho e no meu relacionamento atual com elas, cheguei a conclusão de que não, não estou muito exigente.
Será que é exigir demais que elas sejam gentis? É muito pedir pra não ouvir fofocas ou não achar graça em piadinhas preconceituosas de gays ou negros? É tão ruim não querer se envolver quando um fala do outro pelas costas, comentando sua roupa, seu corpo, sua maneira de ser?
Minha amiga, certamente, não sabe o que eu escuto ou com quem eu convivo. Me dói os ouvidos e o cérebro quando ouço alguém dizer que chutou um filhote de gatinho na rua, simplesmente por não gostar de gatos. Me incomodam os lobistas, aqueles que se agrupam para conseguirem vantagens ilícitas, sem se importarem em prejudicar os demais que não fazem parte de seu grupo restrito. A grosseria de não ceder a vez, tipo o velho ditado da "farinha sendo pouca, meu pirão primeiro". A escassez de companheirismo, não se preocupando se você está ou não precisando de ajuda, e por aí vai.
Não acho que eu esteja tão exigente assim, apenas espero que as pessoas tenham um pouco mais de bom senso, dignidade e educação. Dessa forma, podemos também ser gentis, podemos ajudar e respeitar o outro, fazer a coisa certa e trazer felicidade tanto pra eles como pra nós mesmos.
Certa vez, uma holandesa me disse que adorou o Brasil, mas nunca viveria aqui justamente por causa desse tipo de comportamento. Ela achava que isso era pior que a violência. Todos nós podemos ser violentos alguma vez em nossas vidas, basta perdermos a cabeça por um minuto. Mas conviver com determinadas "pessoas", isso temos que fazer o tempo todo, até por necessidade. E é chato pra caramba!

11 de abril de 2010

A redação da Clarisse

Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel V. da Silva, de 24 anos, estudante que termina faculdade de direito da UFRJ em julho de 2010, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários.
Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade'.
A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNESCO.

'PÁTRIA MADRASTA VIL'
Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez...Contraditórios? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade. O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica. E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)...
Mas estão elas preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil. Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos. Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?

10 de abril de 2010

Amor em tempos ódio

Um amigo e poeta me disse uma vez que por mais que você tenha raiva de determinada pessoa que você amou mas te fez sofrer, não acredite nisso. O amor é muito mais forte que o ódio, o amor vence barreiras que você nem imagina que existem e, quando
verdadeiro, dura toda a sua existência. Ou seja, enquanto existimos, o amor fica ali, paradão, mesmo que não convivamos mais com aquela pessoa que o dividiu conosco.
A gente só dá conta disso quando reencontra essas pessoas, e o tempo é único pra nada um de nós. Alguns rapidinho esquecem as mágoas e partem logo pra amizade, outros precisam de alguns anos e tem ainda aqueles que, pra quem acredita, só resolve suas pendências em outras vidas.
Pessoas podem nos machucar muito a ponto de não desejarmos mais estar com elas, vai depender do nosso orgulho ou dignidade. Mas também depende da nossa inteligência aceitar a pessoa depois que ela reconhece seu erro, e isso eu prezo pra caramba. Reconhecer os próprios erros não é pra qualquer um, e quando alguém consegue isso, é sinal de que houve mudanças, crescimento, sabedoria. Não é ótimo estar ao lado de pessoas sábias?
Quando percebemos que aquela pessoa evoluiu nesse sentido, ficamos mais leves porque a mágoa vai embora, não existem mais cobranças e aí, nos damos conta de toda a extensão do amor que sentimos. É só correr pro abraço, sentir-se abraçado pelas lembranças bacanas, saber que aquilo tudo não foi em vão, que nos ajudou a compreender nossa própria existência e o sentido da felicidade.
Da minha parte, estou tranquila por saber que minhas pendências estão sendo resolvidas nessa vida. Ainda bem, senão na outra eu provavelmente estaria assoberbada, sem tempo pra mais nada a não ser resolver problemas com um monte de gente.

8 de abril de 2010

Áreas de risco

Essa história de desabamentos por causa da chuva se repete ano após ano. Assim como São Paulo e Santa Catarina, agora foi a vez do Rio de Janeiro. Parece até uma coisa cíclica, cada estado tem a sua vez, como uma roleta russa do destino que escolhe o momento para cada lugar.
Sempre se discutiu as causas para essas tragédias, e sempre se chegou as mesmas conclusões: ocupação irregular, lixo nas encostas, desmatamentos. E hoje houve muita discussão entre os colegas do trabalho enquanto almoçávamos com o RJTV mostrando aquele monte de gente desabrigada, procurando seus próximos debaixo da lama. As cenas do morro de Niterói com quarenta casas soterradas foi de fazer perder o apetite, e o papo era o mesmo que eu já cansei de ouvir quando acontecem coisas assim: de quem é a culpa?
Li em algum lugar, que o Governador Sergio Cabral culpou os próprios moradores, aqueles que construiram suas casas num terreno que serviu de lixão. A terra era fofa, não dava pra fazer um barraco com segurança. Mesmo assim, eles invadiram o terreno e lá ficaram...
Não nego a responsabilidade dessa gente, assim como não me cabe julgar suas atitudes de resolverem viver ali. Imagino os seus motivos, que devem ser os mesmos de outras milhares de pessoas que não têm onde morar. Mas questiono muito o texto do Governador.
Nas reportagens, ficou claro que a Secretaria de obras fez, em 2005, um levantamento das áreas de risco na região metropolitana do Rio. E se esse levantamento existe, que providências o Estado tomou para evitar esse tipo de tragédia?
Se o morro de Niterói era, sabidamente, um local impróprio para assentamentos, como essa gente conseguiu construir lá suas frágeis casinhas? Uma casa não é levantada da noite pro dia, e havia um monte delas, imagino quase uma centena, porque se quarenta foram soterradas...
No início dos anos 80, eu participei do Projeto Rondon em uma cidade no interior de Campos, chamada Barcelos. Não havia asfaltamento nessa cidade, as pessoas eram bem humildes, poucas possuiam sequer uma TV, e algumas comunidades sem energia elétrica. A nós, estudantes, cabia ensinar-lhes dicas básicas de higiene e saúde, visto que a maioria sofria com doenças causadas justamente pela falta desses dois itens. Vi crianças excessivamente desnutridas com sintomas de verminoses, pessoas com doenças de pele, complicações intestinais, renais, e um monte de mulheres grávidas que não tinham a menor ideia de como tomar anticoncepcionais.
Ensinávamos a lavarem as mãos, a ferver a água dos poços para beber e cozinhar, a cuidar dos alimentos, a fazer soro caseiro, enfim. Coisas que não acreditávamos que alguém não tivesse a noção de que era preciso fazer. E eles, realmente, não sabiam. Eram os sem noção.
Por causa disso, imagino essas pessoas que agora, igualmente sem noção, construiram casas em locais inapropriados. Assim como o pessoal de Barcelos, esses também não sabiam. Ninguém apareceu ali pra avisar, ninguém os proibiu, assim como não lhes foi dada outra escolha. O Governador, o Prefeito e algum político talvez já tivesse ido na tentativa de angariar votos, mas explicar àquela gente que ali não era seguro, acredito que isso não fizeram.
O Estado teve recursos para fazer o tal levantamento, tem recursos para construir complexos habitacionais onde não há tanto risco, e vai conseguir recursos pra sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo. Até lá, quantas chuvas não haverão de cair, quantas casas não desabarão ou quantos não morrerão soterrados?
Talvez, daqui a mais 5 anos, eles façam outro levantamento mostrando áreas de risco que hoje ainda não existem. E veremos, na TV, outras tragédias e ainda, outro Governador isentando-se da sua parcela de responsabilidade.