31 de agosto de 2011

Sincronicidade

Ontem, pesquisando algo sobre a Itália, encontrei um palácio em Milão, conhecido como Casa degli Omenomi,com seus télamons, figuras esculpidas nas colunas da fachada. O nome deriva dos "oito grandes homens". Um trabalho que representa magnificamente a arte italiana e claro, sua origem grega.


Em 1991, (10 anos antes) estava eu dormindo e, do nada, acordei no meio da madrugada com uma imagem completa, que não me saía da cabeça. A solução foi despertar de vez e, na prancheta e com o nanquim, representar aquela imagem que parecia ter vindo pronta, como uma fotografia mental.

Engraçadas e inusutadas essas sincronicidades...

31 de maio de 2011

Kit anti-homofobia

Ainda não estaríamos preparados? Talvez não, e isso por conta do excesso religioso, do excesso de conservadorismo ou da ignorância predominante.
Assisti esses dias, aos vídeos do mec que fazem parte do kit anti-homofobia, e não entendi o porquê deles terem sido vetados pela presidente.
Seria o motivo esse, de não estarmos preparados? Pode ser que sim, visto as inúmeras opiniões públicas manifestadas contra o projeto.
Aí eu me pergunto: por que são contra?
No meu parco entendimento, os vídeos não estimulam absolutamente nada. Pra quem não viu, eles apenas relatam fatos que já existem, e há muito tempo por sinal, entre os adolescentes que estão descobrindo sua sexualidade. E que servem de referência até para adultos que se descobrem quando mais velhos...
Não importa a idade com que se sai do armário, isso sempre existiu e vai existir sempre, cada um na sua época, cada um no seu momento. A verdade, é que sempre vão haver pessoas que se descobrem bi ou homossexuais. O armário é grande, e sempre tem gente querendo sair de lá de dentro.
Proibir esses relatos, mesmo que fictícios, é tapar o sol com a peneira. É viver no faz de conta de que homens devem ficar com mulheres e vice versa, de que a família tradicional homem-mulher é a única que faz sentido, e que o amor, em toda a sua plenitude e onipresença, só pode prevalecer entre sexos opostos.
E o que mais me assusta, é que essas pessoas que são contra a abordagem não pensam, ou sabem e não assumem publicamente, que é justamente essa atitude de não encarar de frente, que leva ao grau mais grave da homofobia. Pois não falar sobre o assunto, favorece a ignorância do mesmo, e ignorância é algo que quase sempre conduz à violência.
Aí, muita gente pacífica que vetou o projeto, vai se assustar com essa violência quando assistir na TV, a notícia do assassinato de um homossexual qualquer numa cidade qualquer do Brasil.

13 de maio de 2011

Dom Quixote homofóbico


Qual é o problema do deputado Jair Bolsonaro? Sim, porque ele TEM um problema, e é sério. Como não sentir perplexidade diante de sua incansável perseguição aos homossexuais? Como não ter a curiosidade de saber porque ele se auto promove um implacável defensor dos direitos morais, religiosos e da família contra a homossexualidade? E porque ele acha que os gays representam tanto perigo? Do que ele tem medo?
Aliás, essa pretensão me fez vê-lo como um Dom Quixote assessorado por Sanchos Panças homofóbicos, lutando contra moinhos cujos braços ao vento formam arco-íris pelos céus.
Toda fobia é uma doença, portanto a homofobia é patológica e o deputado deveria ter medo disso, e não dos homossexuais em si. O nicho ao qual Jair pertence, o dos políticos, dá mais medo. São tantos corruptos, desonestos e até assassinos que o cercam, mas a isso ele parece não temer. Se usasse seu empenho contra tais criaturas, talvez o Brasil ganhasse um herói, entretanto o deputado só se interessa em perseguir os gays.
Suas declarações sempre foram polêmicas, mas depois do programa do CQC em que ele atacou Preta Gil, ficou clara sua intenção de guerra declarada. Não sei se, decorrente desse incidente, o congresso finalmente votou a lei de reconhecimento de união estável entre casais do mesmo sexo. Imediatamente o deputado teve um surto de intolerância que o levou a distribuir panfletos criticando a adoção do MEC de cartilhas educativas no que diz respeito a homossexualidade.
Qual o seu medo, deputado? Porque acha que uma criança na escola, ao ser esclarecida sobre isso, venha necessariamente a se tornar gay? Será que não pensa na quantidade de homossexuais atacados e assassinados diariamente, não só no Brasil como no mundo afora? Será que não entende que a educação é a única arma legítma que pode reduzir essa violência? Será que não percebe que, apesar do Sr. odiar tal orientação sexual, existem tantos que a aprovam e aceitam? Já parou para pensar na dor de uma mãe que, aceitando ou não seu filho gay, terá ao saber que ele foi vítima de homóficos agressores? Ou não sabe que o esclarecimento pode evitar problemas de discriminação? Entende que existe sim, e muito, amor verdadeiro entre pessoas do mesmo sexo? No que o afeta a forma como as pessoas se amam ou se desejam?
E, pelo que entendi na última notícia que li pelos jornais, essa é mais uma questão. O deputado e seus Sanchos Panças, defendem o direito à discriminação! A forma como se deu essa última votação na câmara, pelo projeto que criminaliza a homofobia, mostrou de fato a que o Sr. Jair Bolsonaro veio. Quem leu as reportagens percebeu, pelas suas falas, o baixo nível de suas opiniões.
Ainda bem que o deputado é uma figura pública. Ainda bem que seu discurso é em favor da moralidade e bons costumes. Caso não fosse um político, sabe-se lá se estaria pelas ruas, de cabeça raspada, atacando gays em plena Banda de Ipanema?

29 de março de 2011

Quino

Ser cartunista não é pra qualquer um. Eu, por mais que goste de desenhar e até que o faça direitinho, já tentei enveredar pelos cartoons mas minha criatividade se torna limitada, porque o cartoon é pra ser uma coisa engraçada. E nem sempre consigo transformar em comédia algo que me revolta, aborrece ou entristece.
Os artistas que se dedicam a essa arte têm, pra mim, a essência da criatividade. Com seus traços simples (na grande maioria), são capazes de revelar a "miséria" humana da forma mais bem humorada possível, de modo que nós, que nem sempre a percebemos apesar de convivermos com ela o tempo todo, tornamo-nos conscientes de sua existência.
Sem choques brutais, sem terrorismo, sem dor. O desenho desses caras têm o poder de expor a nossos olhos e mentes, as piores coisas possíveis de uma maneira gentil. Nós vemos, processamos e entendemos tudo o que eles nos oferecem, em cores e formas.
Por isso, vou postar aqui um dos mestres que muito admiro, Quino. Criador da Mafalda, parece que anda de saco cheio dessa miséria humana que cada vez mais vem sobressaindo na nossa sociedade.
Tá bacana porque diz a que veio.







5 de março de 2011

O blackberry

Conheço algumas pessoas que ainda resistem à tecnologia. Estudei com gente que mal sabia ligar um computador. Uma amiga tem um laptop que nunca usa, um outro vive tentando decifrar as entranhas da web, colegas de trabalho que têm medo das teclas e por aí vai...
Essa velocidade de informações tecnológicas assusta muita gente. Mal se aprende a usar um celular e já surge outro, com funções que até então não se imaginava serem possíveis.
É claro que uma boa parte da galera mais jovem, hoje, sabe lidar com tudo isso. Os mais velhos dizem que as crianças já nascem sabendo.
Não é difícil não, basta um pouco de boa vontade e paciência para se entender com essa tecnologia.
O problema é que muita gente que não está nem aí para os "mil em um" que são cuspidos no mercado, de repente é obrigado a conviver com eles, de alguma forma. Daí eu ouvi uma musiquinha que me fez pensar mais no assunto. Tanto que me inspirei e fiz esse clipe, meio tosquinho, mas que me deu muito prazer. Porque a música resume, divertidíssima, essa vantagem da tecnologia sobre os sentimentos mais básicos do ser humano.
Ah, o som é do Tono, Samba do Blackberry.

27 de fevereiro de 2011

Luz e tecnologia

Aí vai um vídeo muito bacana, uma amostra do que alguns designers podem fazer além das telas dos computadores e dos telões de cinema. Numa época em que o 3D está na moda, esses caras inovaram numa mídia inusitada: a fachada de um prédio na Alemanha, com a ajuda de um bom projeto de luzes e muita criatividade.
E tem gente que ainda acha que James Cameron com seu Avatar tolinho é o "must" da tecnologia 3D...
Apreciem sem moderação.

11 de fevereiro de 2011

O Fim

O fim é sempre um problema. Mesmo o fim da vida, sendo a nossa, traz algum problema para quem fica, e que vai da saudade a, talvez, uma dívida.
Mas hoje vou postar para uma amiga que está sofrendo pelo fim de um relacionamento. por tolice, porque, ao que parece, a pessoa com quem ela terminou não valia a pena.
Minha amiga, apesar de adulta, ainda tem a cegueira das paixões adolescentes. Ela ainda não atingiu o estágio de maturidade que nos torna (quase) invulneráveis a certos tipos de amores por outros certos tipos de pessoas. Ela também ainda não aprendeu a interpretar os sinais e, como já citei por aqui, todo mundo dá um sinal, por menor que seja. Nós temos que ficar de olhos abertos, sempre, atentos ao que aquela pessoa pode vir a fazer e que possa nos prejudicar de alguma forma.
Minha amiga disse que foi usada, frase essa já bem batidinha. Todo mundo tem essa percepção quando leva um pé na bunda. Quem já não se queixou, ao terminar um namoro, com o célebre discurso: "Puxa, eu fiz tudo por ele..."
Depois, num paradoxo inexplicável, tenta se mostrar bonzinho dizendo que tudo o que fez foi de coração, foi por amor e nunca esperou nada em troca. Mentira! Todo mundo espera algo em troca, nem que seja um "obrigado", caso contrário essa palavra não existiria no dicionário.
Eu já disse também que qualquer relacionamento é uma via de mão dupla. Se damos, esperamos receber. Se beijamos, queremos sentir a troca da língua. Se fazemos carinho, queremos sentir a mão do outro nos acariciar, e por aí vai. Isso vale também para as coisas materiais, por que não? Se hoje eu pago o almoço, amanhã você paga o jantar.
Essa amiga reclamou de ter pagado quase tudo. Gastou muito nesse relacionamento, e no final, descobriu que pagou por um par de chifres.
Por isso eu falei dos sinais. Como se deixar envolver por alguém que não se compromete com a conta? Como se apaixonar cegamente por alguém que abusa de nossa boa vontade, de nosso sentimento? Esse tipo de comportamento seria suficente para fazê-la pular fora, logo no começo, sem grandes danos ao coração.
Um sujeito que eu conheço, tem a cara de pau de sentar-se à nossa mesa, pedir um, dois, três e no sexto chopp avisar baixinho que só tem R$5,00 no bolso. Sempre assim. Minha amiga, não estando apaixonada por ele, iria subir nas tamancas e armar O barraco. Mas, cega de amor, não percebeu esse sinal no mesmo comportamento do ex namorado. Perdeu, perdeu...
Tenho certeza de que ela vai ficar bem. Eu lhe disse que ela está agora em fase de abstinência. Afastada de seu par, ainda tem os desejos que a envolveram nessa relação, e isso é como tentar se livrar de um vício. Só espero que não tenha recaídas.
Quanto a essa coisa de ser usada, infelizmente é algo inerente ao ser humano, usamos e abusamos, somos usados o tempo todo, seja no amor ou não. Por isso torço pelo seu amadurecimento, para que ao menos, torne o abuso menos traumático. E para exemplificar de alguma forma o que eu digo, pego emprestado o refrão de Annie Lennox:

"Todo mundo está procurando alguma coisa
Alguns deles querem te usar
Alguns deles querem ser usados por você
Alguns deles querem abusar de você
Alguns deles querem ser abusados por você"


Apesar de tudo quero que minha amiga saiba que "até um pé na bunda empurra a gente pra frente". Frase colhida na internet.

21 de janeiro de 2011

Ainda a solidariedade

Se a preplexidade produzida pelos atos insanos e de má fé dos seres humanos causasse uma doença, por mais simples que ela fosse, eu estaria morta.
Prometi que sempre postaria alguma coisa sobre essas atitudes enlouquecidas, senão quem enlouqueceria seria eu. E aqui vai mais uma.
Estava eu trabalhando como voluntária na Cruz Vermelha no Centro do Rio, em decorrência das enchentes da Serra, que muito me abalou. Lá na Cruz Vermelha o trabalho é pesado, mas gratificante. É gente pra todo lado, e todos fazendo alguma coisa, ajudando naquilo que lhe é possível.

Tem corrente humana, onde os donativos que vêm dos caminhões são entregues de mão em mão até os centros de triagem. Ou dessa triagem para os caminhões, que os levam até as cidades afetadas. Tem as barracas de medicamentos, de brinquedos, de água, enfim, tudo o que as pessoas puderam doar para os sobreviventes da Serra. É gente que faz a triagem de remédios, organiza as filas, etiqueta os pacotes que vão viajar, que cozinha, que distribui água e comida pra quem está trabalhando, que limpa o chão, enfim. Todo mundo faz alguma coisa, obrigatoriamente.

Surpreendentemente, tem gente que faz até mais que isso, e o que não deveria fazer. Fiquei por um tempo no centro de triagem de roupas, que nada mais era senão abrir os sacos e caixas de donativos (roupas doadas), despejá-las em mesas toscas e ali, junto com outros voluntários, dividi-las em roupas masculinas, femininas, íntimas, infantis e de frio ( também vieram acessórios, como bonés, lenços, bolsas e afins).
Uma vez separadas dessa forma, eram feitos novos sacos, com etiquetas que indicavam o tipo de roupa que era, e que iam para um canto aguardando um outro caminhão recolher e levá-los aos seus destinos.
Essa triagem revelou que os cretinos existem, e aparecenm justamente onde não podiam aparecer. Tal qual o caso dos ladrões que tentaram desviar um caminhão de donativos em Campo Grande, ou dos comerciantes de Friburgo que supervalorizaram o preço da água, na Cruz Vermelha, em pleno funcionamento, teve gente que pegou para si algumas roupas doadas. Isso mesmo. Enquanto separavam masculinas de femininas ou infantis, achavam no meio algo que lhes agradasse e pronto. Já enfiavam nas suas bolsas com a cara de pau de alguma árvore que não está, definitivamente, em extinção.
Duas mulheres se deram ao luxo de escolher qual bermuda o sobrinho gostaria mais. Outra ficou com uma mala que havia chegado cheia de roupa e, já vazia (pelo menos), não subiria a serra.
Eu passeei pelas outras unidades, e pensei: se levavam roupas, o que eu não seria dos mantimentos, dos remédios e outras utilidades que estavam ali, aguardando para serem entregues a seus novos e necessitados donos?
Bom, isso pra não falar dos sem noção. Aqueles que doam o lixo que não lhes é mais útil. Vi roupas sujas e rasgadas, impróprias até para virarem pano de chão. Imaginei a cara dos desabrigados que perderam tudo e anseiam por uma muda de roupa nova, ao receber aquilo. Na minha triagem, ao menos chegamos a um consenso: o que estava muito ruim não ia a parte alguma senão para o lixo. Infelizmente, nem todos os voluntários tinham esse bom senso. Infelizmente, também, lá na Serra existem os privilegiados com algum QI (quem indica) que vão receber as melhores roupas, pois não tenho dúvidas de que esses pacotes, uma vez no seu destino, poderão ser abertos e uma nova triagem ser feita em favor desse ou aquele "conhecido"... Faz parte do tal jeitinho brasileiro.
Que seja. Torço para que a intenção seja a melhor possível.
Ah! Ia esquecendo (assim como esqueci de levar minha máquina) que essas imagens são dos bons fotógrafos da agência O Dia.

17 de janeiro de 2011

A solidariedade e o jeitinho brasileiro

Todo mundo está perplexo e assustado diante da tragédia da Serra. Mesmo quem nunca tinha estado num dos lugares afetados, curvou-se com essa tristeza que tomou conta do país. Eu, pessoalmente, tenho uma sensação de perda indescritível, por ter conhecido essas cidades, e por ter vivido alguns dos melhores momentos da minha vida em Friburgo.
A dor é grande, perdi dois amigos e me comovo diante de tanta destruição. Os que ficaram, estão convivendo com tudo isso de uma forma, eu diria, hercúlea.
Mas é bacana ver essa tal de solidariedade brotando espontaneamente nas pessoas. Hoje no trabalho, teve arrecadação de dinheiro para comprar água. Eu já arrumei meu lote de roupas para levar aos desabrigados, e não satisfeita, já me comprometi como voluntária na Cruz Vermelha no feriado de quinta feira. Quero fazer tudo o que puder, doar sangue, embalar mantimentos e, se possível fosse, até faria parte de uma das equipes de resgate.
Cansei de ver tragédias semelhantes pelo mundo afora pela TV, mas essa, particularmente, me atingiu em cheio. Perguntariam-me por que, e eu diria que talvez, por conhecer e gostar muito daquelas bandas de lá. Talvez também por ter escolhido como meu segundo lar, assim que fosse possível, e por que não, um lar definitivo num futuro próximo da minha vida.
Agora, o paradoxo: diante de tanta atitude de bem, temos que conviver com o mau caratismo, que mais parece uma praga, uma doença que não tem cura e aparece quando menos se espera. Quando todos estão preocupados em sobreviver, surgem os espertos com a coragem de roubar os donativos destinados aqueles que perderam muito, senão tudo.
Isso é uma tragédia à parte. Desse grupo fazem parte alguns "comerciantes" que passaram a vender água SETE vezes mais caro. Esse tipo de gente deve ser psicopata, pois não é assim que os psiquiatras denominam as pessoas que nada sentem diante de algo muito grave? Pois bem, vamos conviver com isso também. Dizem que faz parte do jeitinho brasileiro" de sobrevivência, então vem tudo no mesmo pacote: a solidariedade e a pilantragem.
E pra coroar essa definição esquisita, ainda temos um governador que se deu ao trabalho de renovar o contrato com o tal centro espírita Cobra Coral, pra que as entidades que lá frequentam, fizessem parar de chover. Isso é que é dar jeitinho...

7 de janeiro de 2011

Politicamente correto

Recebi isso por e-mail. Concordo, sob um aspecto, e discordo sob outro. O importante é que o texto é muito interessante, e vale a pena ler para refletir. Principalmente, refletir...

O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.

Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha.
Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?
É Villa Lobos, cacete!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil.
Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias o u coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar no olho do cu, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não.
Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.

Abraços,
Luiz Antônio Simas

(Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio).

1 de janeiro de 2011

Harmonia

A festa do reveillon é uma festa como outra qualquer. Deve ser animada e divertida como uma verdadeira festa, e a isso elas todas se propõem. A festa do ano novo tem a diferença de ser aquela festa grande, da qual a maioria das pessoas participam, a qual todas sabem que está acontecendo, e na qual todas têm os mesmos desejos e esperanças.
A minha festa foi exatamente assim: animada, divertida e feliz. E apesar dos problemas que persistem na minha vida e na de todo mundo, mesmo quando o ano começa e eles continuam existindo, fui tomada por tanta felicidade que resolvi adotar uma palavrinha simples que pudesse lembrar ao longo desse novo ano: harmonia.
Pensei na harmonia porque a identifico como algo que pode ter a força de transpor barreiras, de amenizar conflitos, trazer paz. Quando se está em harmonia consigo mesmo, entra-se em harmonia com tudo à nossa volta. É mais ou menos como não entrar em pânico diante de situações difíceis, pois assim conseguimos superá-las.
O movimento da festa era bacana, deu para perceber o sentimento de renovação que se apropriava das pessoas, que mesmo quando não se conheciam, sorriam e interagiam felizes umas com as outras.
Claro que o local contribuiu, e muito. Uma mesa ao ar livre, no meio das árvores de um parque maravilhoso, num quiosque todo decorado em que o DJ que caprichou nas músicas fez todo mundo dançar. Aquilo, pra mim, era harmonia.
Entretanto, a gente não pode esperar que todos estejam assim. Claro que alguém pode estar numa sintonia diferente, azedar o ambiente e gerar um pequeno conflito. Isso também faz parte da festa, de qualquer uma.
Daí presenciei uma situação que não combinou com a harmonia a que me refiro. Alguém, num grupo de amigos, ficou sem cigarros no final da festa. E, como todo fumante, desejou mais um, talvez para acompanhar a saideira. Na minha opinião, um desejo muito simples. Pediu o cigarro à companheira da mesa, que também fumava. Ela lhe entregou o maço com um cigarro dentro, quando ele perguntou se era o último que ela tinha e se não se importava em doá-lo. A reposta dela foi um gesto de mão, tipo fazer o quê"?
Essa resposta me pareceu ambígua. Se ela não queria dar seu último cigarro a ele, penso que a franqueza seria de bom tom (como toda a franqueza que os amigos devem ter entre si). Se deu, deveria ter dado numa boa, sem comentar depois que o amigo não poderia ter filado nada. Ele que tivesse seu maço reserva, que viesse prevenido, ou que não fumasse mais.
Penso que um cigarro é muito pouco pra ser reclamado, principalmente num momento de confraternização. E ele só pediu um, não foi o maço inteiro...
Por isso, meu desejo de harmonia é legítmo. Para que as pessoas não reclamem de ter que dar alguma coisa, com ou sem importância. Para que as pessoas não sejam msquinhas e não economizem gentilezas para com o próximo, seja ele amigo de longa data ou apenas alguém que compartilhe com elas momentos felizes como este do reveillon. E, principalmente, para que todos consigam parar de fumar.