2 de agosto de 2009

Hábitos

Os hábitos de Stephen Covey

Semana passada, fui "convidada" a participar de um curso que, segundo me juraram, ajudaria muitíssimo tanto na minha vida profissional como pessoal. Era um curso basedo no livro do Stephen Covey, chamado "Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes". Eu não tinha a menor idéia do que se tratava, mas quando me disseram o nome do curso, o mesmo do livro, a primeira coisa que me veio à cabeça era auto ajuda. E mais a contragosto do que curiosa, fui assisti-lo durante os 3 dias "recomendados". E eram só 3 dias...
O que vi, então, foi um desses programas americanos de treinamento para funcionários de empresas, com a dublagem de um cara que sempre dubla documentários de TV a Cabo. Esse treinamento, porém, não tinha nenhum cunho técnico, pois o objetivo era fazer com que as pessoas seguissem exatamente os tais 7 hábitos para melhorarem suas relações profissionais e interpessoais. Até aí, tudo bem.
A coisa começou com um filmezinho piegas falando da gansa dos ovos de ouro. A mensagem de cuidar bem da gansa para ter os ovos pela vida inteira, fazia sentido. Então, cuidem bem de suas vidas para que possam desfrutar de tudo de bom e do melhor que ela possa te oferecer. Mas não ficou só nisso.
Entre tantos outros filmes semelhantes de mais ou menos 10 minutos a que assisti, havia debates falando sobre as mensagens e objetivos que cada um trazia. Cada hábito era uma etapa a ser cumprida, e na apostila, todas demonstradas em gráficos e fórmulas que não acabavam mais. Ainda havia exercícios, nos quais devíamos preencher lacunas com as palavras inerentes a cada etapa que aprendíamos, repetindo de forma a não esquecê-las jamais. Tudo me parecia meio invasivo, chegando quase a uma lavagem cerebral. Dinâmicas com joguinhos bobos para falar de estratégias e todo um marketing que faz, realmente, coisas fantásticas, pois descobri que funcionário virou colaborador, chefe virou líder e o cara que deu o curso em questão, era o facilitador. Tudo muito subliminar para amenizar um estímulo neurótico a planejamentos e condicionamentos na busca de uma produtividade que me parecia muito mais interessante para a empresa do que para um ser humano normal. Será que eu preciso realmente de um "sistema de planejamento eficaz" para gerenciar minhas aividades pessoais?
Uma das etapas consistia em "Construa a sua CBE - conta bancária emocional", identificando um relacionamento importante com uma pessoa e verificando qual o meu saldo na conta dessa pessoa. Juro que não sei transformar ninguém em banco, muito menos amor em dinheiro, e se assim fosse, estaria mais rica que o Bill Gates. No meu entender, questões humanas devem ser tratadas de forma humana. O subliminar a que me refiro, reside em trazer a empresa para a vida pessoal do sujeito, e não o contrário como o autor insiste em fazer-nos acreditar.
Não que os hábitos sejam ruins, de forma alguma. São válidos, sim, pois são baseados em bons valores morais. O autor me incomodou ao condicioná-los a esquemas burocráticos, o que remete, sem dúvida, ao universo corporativo. E quando vejo empresas brasileiras, tentando e muitas vezes conseguindo, imitar essas fórmulas corporativistas americanas, me assusto. Já não bastava imitarem o telemarketing agressivo e ainda incorporar o maldito gerundismo? Não creio que dê, por exemplo e segundo o curso, para viver estabelecendo metas para si e até para o próximo. Não dá pra aturar incondicionalmente supervisor omisso, colega chato e condições ruins de trabalho sem reclamar. A gente questiona, avisa, pede, nada muda e uma hora a gente explode. Essa é uma realidade brasileira, e acredito, em muitas empresas pelo mundo todo.
Pesquisando na internet, descobri que Stephen Covey é (ou já foi) um mórmon e faz parte de uma dessas igrejas americanas que adoram dinheiro. Esse livro vendeu horrores, pois suas fórmulas atendem ao estilo americano de corporação empresarial, e apesar de toda sua temática ser voltada para o aperfeiçoamento dos valores humanos, mesmo em benefício da empresa, é falha, pois um ser humano será sempre humano, terá virtudes e defeitos, e não adianta seguir incondicionalmente 7, 8, 10 ou 1.000.000 de bons hábitos que um dia ele vai falhar.

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