Ontem foi um sábado agradável, apesar do calor que insiste em continuar pelo outono afora. A idéia era tomar um chopp em Ipanema pra ver como andavam as coisas por lá. Movimento fraco, mas tudo muito tranquilo porque conseguimos uma boa mesa no Manuel e Joaquim, e também porque Ipanema não lembrava em nada aquele glamour do início dessa década, já que desde 2004 eu não aparecia por lá.
Como sempre acontece nesses papos de mulheres em mesa de bar, o assunto passa pelos relacionamentos, de preferência amorosos, e dessa vez me chamou a atenção as opiniões sobre os critérios da escolha de alguém a quem queremos "namorar".
As pessoas mais discretas nem sempre revelam quais os seus verdadeiros critérios. Mesmo quem jure de pés juntos não ter nenhum critério para envolvimentos, sempre mede ou avalia alguma coisa na pessoa desejada. Mas como eu estava entre amigas, pude conhecer os seus e expor os meus, que até pouco tempo atrás nem tinha tanta certeza de serem fundamentais.
Cada um tem os seus, e mesmo que a gente não se dê conta, eles existem e interferem sim, nas nossas escolhas. Pessoas carentes podem até passar por cima deles, mas eles vão acabar aparecendo ao longo do relacionamento, se este durar. E a coisa pode não acabar tão bem quanto se esperava.
Tenho um conhecido que me relatou os seus critérios de uma forma muito bem humorada. Seu medo era de, ao envelhecer, virasse evangélico e se apaixonasse por alguém do quadrilátero do terror: pobre, feio, burro e chato. Rimos bastante, mas quando penso nisso, imagino que esse seja o critério de quase todo mundo que conheço.
Eu pelo menos, dessas características, hoje em dia não me imagino com alguém que seja burro ou chato. A beleza e a riqueza não me cativam, mas o conteúdo cultural pra mim, é fundamental.
Mas eu só me dei conta disso quando namorei alguém que não me impressionou nem ou pouco em termos dessa "bagagem". Impressionou-me sim, a ausência dela, o que tornou a pessoa consequentemente chata. Porque era chatíssimo assistir a um filme cult e perceber que o outro não entendeu nem a mensagem nem a história. Foi muito chato descobrir, quando já estava envolvida, que aquela criatura não conseguia ler um livro porque lhe dava sono, e a gente perdia mais um assunto pra se conversar. Era chatésimo entrar em exposições e ver a pessoa passando pelas obras sem fazer nenhum comentário porque não percebia nada do que o artista em questão pretendia mostrar.
Não sou uma pessoa excessivamente culta, não vi todos os filmes ou obras nem li os melhores livros, mas acredito que o ser humano deve ter um pouco de sensibilidade pra lidar com sua própria existência, e a cultura ajuda muito. Interpretar, por exemplo, as mensagens que um escritor descreve colabora pra gente conhecer o concretismo da vida.
Formamos opiniões próprias prestando atenção no que acontece a nossa volta, aprendemos coisas que a escola ou universidade não nos ensina e a cultura, mesmo que muitos a considerem algo abstrato, é uma ponte para tudo isso.
Voltando aos critérios, resumimo-nos em Ipanema a concordar que estamos presos a eles, e com a idade ou maturidade, vão se tornando mais e mais complexos e percebidos e, em alguns casos, fundamentais. Já ouvi gente dizendo que não namoraria alguém que não tivesse a mesma classe econômico-social (não sei se esse hífem ainda cabe aqui). Tem gente que jura jamais se envolver com uma pessoa gorda, outros só namoram quem tem um carro, e há ainda aqueles que sempre aparecem com alguém bem mais jovem.
Não me cabe julgá-los. O que procuro fazer agora é avaliar os meus critérios para que não me torne escrava deles, impossibilitando-me de conhecer pessoas novas e diferentes. Se formos em busca da pessoa perfeita, cairemos no limbo e adotaremos um espelho por compania. Levaremos nosso espélho a todas as festas, Viajaremos com ele, compraremos duas entradas no cinema ou teatro e o colocaremos na poltrona ao nosso lado. Se insistirmos em lhe dar pipoca na boca, seremos expulsos da sala...
28 de março de 2010
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adorei a idéia de dar a pipoca ao espelho! kkkk um dos critérios que eu penso ter para escolher o próximo relacionamento é que tenha senso de humor. Acho importante alguém que eu goste de trocar idéias e rir junto.
ResponderExcluirOlá! Sou novata aqui. Passei pra ler suas ideias, depois de conversarmos longamente no chat. Bom, essa questão de relacionamentos... dos critérios... a pós-modernidade parece taxativa: alguém vale pelo o que possui e ainda não sei bem se vence disparado a aparência ou a grana, mas priorizar quaisquer dessas escolhas (ou a ambas) talvez se inclua no por que tantos desencontros e tanta brevidade nas relações da atualidade. Eu só consegui perceber algo, em falando a meu respeito: sou atraente enquanto massa cinzenta. Sou repelente enquanto indivídua propensa a desejar a construção da relação com base no amor, no afeto, na amizade, nos defeitos e nas qualidades. Quero o todo. Rostinho bonito é casca pra mim! Beijos e até. Marina Brasília 46.
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