Se a preplexidade produzida pelos atos insanos e de má fé dos seres humanos causasse uma doença, por mais simples que ela fosse, eu estaria morta.
Prometi que sempre postaria alguma coisa sobre essas atitudes enlouquecidas, senão quem enlouqueceria seria eu. E aqui vai mais uma.
Estava eu trabalhando como voluntária na Cruz Vermelha no Centro do Rio, em decorrência das enchentes da Serra, que muito me abalou. Lá na Cruz Vermelha o trabalho é pesado, mas gratificante. É gente pra todo lado, e todos fazendo alguma coisa, ajudando naquilo que lhe é possível.
Tem corrente humana, onde os donativos que vêm dos caminhões são entregues de mão em mão até os centros de triagem. Ou dessa triagem para os caminhões, que os levam até as cidades afetadas. Tem as barracas de medicamentos, de brinquedos, de água, enfim, tudo o que as pessoas puderam doar para os sobreviventes da Serra. É gente que faz a triagem de remédios, organiza as filas, etiqueta os pacotes que vão viajar, que cozinha, que distribui água e comida pra quem está trabalhando, que limpa o chão, enfim. Todo mundo faz alguma coisa, obrigatoriamente.
Surpreendentemente, tem gente que faz até mais que isso, e o que não deveria fazer. Fiquei por um tempo no centro de triagem de roupas, que nada mais era senão abrir os sacos e caixas de donativos (roupas doadas), despejá-las em mesas toscas e ali, junto com outros voluntários, dividi-las em roupas masculinas, femininas, íntimas, infantis e de frio ( também vieram acessórios, como bonés, lenços, bolsas e afins).
Uma vez separadas dessa forma, eram feitos novos sacos, com etiquetas que indicavam o tipo de roupa que era, e que iam para um canto aguardando um outro caminhão recolher e levá-los aos seus destinos.
Essa triagem revelou que os cretinos existem, e aparecenm justamente onde não podiam aparecer. Tal qual o caso dos ladrões que tentaram desviar um caminhão de donativos em Campo Grande, ou dos comerciantes de Friburgo que supervalorizaram o preço da água, na Cruz Vermelha, em pleno funcionamento, teve gente que pegou para si algumas roupas doadas. Isso mesmo. Enquanto separavam masculinas de femininas ou infantis, achavam no meio algo que lhes agradasse e pronto. Já enfiavam nas suas bolsas com a cara de pau de alguma árvore que não está, definitivamente, em extinção.
Duas mulheres se deram ao luxo de escolher qual bermuda o sobrinho gostaria mais. Outra ficou com uma mala que havia chegado cheia de roupa e, já vazia (pelo menos), não subiria a serra.
Eu passeei pelas outras unidades, e pensei: se levavam roupas, o que eu não seria dos mantimentos, dos remédios e outras utilidades que estavam ali, aguardando para serem entregues a seus novos e necessitados donos?
Bom, isso pra não falar dos sem noção. Aqueles que doam o lixo que não lhes é mais útil. Vi roupas sujas e rasgadas, impróprias até para virarem pano de chão. Imaginei a cara dos desabrigados que perderam tudo e anseiam por uma muda de roupa nova, ao receber aquilo. Na minha triagem, ao menos chegamos a um consenso: o que estava muito ruim não ia a parte alguma senão para o lixo. Infelizmente, nem todos os voluntários tinham esse bom senso. Infelizmente, também, lá na Serra existem os privilegiados com algum QI (quem indica) que vão receber as melhores roupas, pois não tenho dúvidas de que esses pacotes, uma vez no seu destino, poderão ser abertos e uma nova triagem ser feita em favor desse ou aquele "conhecido"... Faz parte do tal jeitinho brasileiro.
Que seja. Torço para que a intenção seja a melhor possível.
Ah! Ia esquecendo (assim como esqueci de levar minha máquina) que essas imagens são dos bons fotógrafos da agência O Dia.
21 de janeiro de 2011
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