Eu gostei do natal até o dia em que descobri que Papai Noel não existia. Daí em diante, passei meus natais com aquela sensação horrível de obrigação, já que minha família fazia (e faz) questão absoluta de comemorar. Com a minha presença, é claro. Mas já vi festas de natal acontecerem em outras famílias, e também já ouvi muita gente reclamando da hipocrisia e da mesma obrigatoriedade. Hipocrisia porque diziam que os parentes passavam o ano inteiro com desavenças entre eles, muita confusão, várias brigas mas, num passe de mágica, tudo desaparecia durante o natal. Será mesmo? Acho que não, pois antes de acabar o ano, lá estavam eles brigando outra vez. E muitas vezes, até durante a festa em si, na hora da ceia, na hora dos presentes...
Não sei quando exatamente começou o meu ceticismo, o fato é que hoje em dia, não ligo pra nada disso. Recebo uma penca de e-mails (até um tempo atrás eram cartões) desejando isso e aquilo, tudo pro natal e ano novo, e quando se trata deste último até que me bate uma fezinha de que as coisas efetivamente melhorem, mas continuo achando que rola um frisson coletivo nessa época.
Conheço gente que, como eu, considera o natal um dia como outro qualquer, mas consegue curtir com mais apego do que eu. Gostaria de ser um pouco assim, também. Mesmo sem levar a sério o fator da religiosidade, eles se dão ao trabalho (pra mim, intenso) até de produzir a festa, e isso inclui ir pra cozinha e encostar a barriga no fogão pra preparar aquela comilança toda que, juro, até hoje não entendo o porquê desse exagero gastronômico quase obrigatório.
Nunca esqueci as nozes, avelãs ou coquinhos e sei lá mais o quê, que enchiam as mesas e ninguém comia. Os mais velhos, as vezes sem dentes suficientes, faziam questão de ter aquilo na festa, mas jamais se aventuravam a degustá-los. E o que sobrava (porque sempre sobrava) ficava enchendo as geladeiras até a metade do outro ano que já havia deixado de ser novo.
Outra coisa tão incompreensível quanto o fator alimentação, pra mim, é o conceito estético que surge no inconsciente coletivo, mas que felizmente, já vem se modificando de uns tempos pra cá. As árvores de natal, por exemplo, eram decoradas com algodão. Porque o algodão imitava a neve! Mas desde quando a gente tem neve por aqui? E porque diabos o tal do Papai Noel tem que usar aquela roupa super aquecida num verão de 40º graus???
Pra quem não sabe, até o final do século XIX, ele era representado com uma roupa de inverno na cor marrom ou verde escura. Em 1886, o cartunista alemão Thomas Nast criou uma nova imagem com a roupa nas cores vermelha e branca, com cinto preto, que foi, convenientemente, aproveitada em 1931 pela Coca-Cola numa grande campanha publicitária, já que eram as cores de seu rótulo. Tal campanha, destinada a promover o consumo de Coca-Cola no inverno (período em que as vendas da bebida eram baixas na época), fez um enorme sucesso e a nova imagem de Papai Noel espalhou-se rapidamente pelo mundo.
Os religiosos mais fervorosos não aprovam esses excessos que nada têm a ver com a verdadeira intenção da mensagem natalina e do que ela representa, já que tudo acaba girando em torno do famigerado consumismo. O interessante é que muitas gente também sabe disso mas não consegue se desvencilhar dos shoppings.
Por essas e outras é que eu não ligo pro natal. Até que fui convidada pra uma festa no dia 24, mas ainda estou resolvendo o vou não vou. De qualquer forma, festa é sempre bom e se todos estão felizes, melhor ainda. A vantagem é que entre amigos (sinceros), não rola hipocrisia e consequentemente, as baixarias, assim espero.
Pra quem gosta, Feliz Natal!!!
23 de dezembro de 2009
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