A forma como algumas pessoas lidam com a fé é algo que gera uma demanda, às vezes, tão chatinha que me dá preguiça. Porque elas precisam me convencer de sua própria fé? E porque precisam, igualmente, me convencer a seguir essa fé que só diz respeito a elas? É mais ou menos assim: eu gosto de beber café, você não gosta. Porque eu preciso te convencer de que o café é gostoso, faz bem, enfim... porque preciso que você BEBA o café??? Mutas vezes, imagino que esse convencimento seja mais para mim mesma do que para você. É como se eu precisasse do seu apoio e da sua cumplicidade para aceitar o fato de eu gostar tanto de café. Para acreditar que o café é bom e justificar meu vício por ele, você também precisa gostar. E beber, tanto quanto eu.
É assim que uns e outros se comportam em relação à fé. Tenho amigos que se exaltam pra me convencer de certas coisas que não entram na minha cabeça de jeito nenhum, e parece até que eles sabem a hora exata de me aborrecer com essas tentativas. Aproveitam o momento em que estou mais frágil para virem com aquele discurso, ora veemente, ora subliminar. E é muito chato.
Quando escuto isso de estranhos, finjo que concordo porque sei que a conversa vai acabar na próxima estação ou no próximo ponto (se a sorte permitir que o interlocutor ou eu saltemos do ônibus ou do metrô). Quando é com alguém do ambiente de trabalho, nem sempre evito o confronto, mantenho minhas teorias e discordo, e aquilo não gera tantos agravantes, pois colega de trabalho não é amigo. Mas quando são os amigos que fazem isso, aí a coisa fica complicada. Porque com amigo a gente tem liberdade de discordar e discutir. Podemos nos exaltar e até brigar, e daí, rola o desgaste.
Tem alguns meses que venho convivendo com um problema de saúde desconfortável, mas não grave. O tratamento gera mais problemas que a doença em si, e isso se agrava pela demora dos exames porque os médicos estão num congresso, porque o plano de saúde não tem médicos tão competentes, porque existe uma fila para se marcar uma simples consulta, enfim. Mas basta essa chateação para alguns amigos começarem com o famigerado "achismo". Eu já estou chateada com o problema, procuro um amigo pra conversar e escuto logo de cara: você precisa ler aquele livro O Segredo. Você precisa cuidar da sua cabeça, pois a mente é que fabrica as doenças. Tudo bem, acredito em doenças psicossomáticas e tenho 80% de certeza de que o meu problema é causado pelo stress. Mas daí a achar que todas a doenças são causadas pelo cérebro, é um pouco demais. E, sendo um problema psicossomático, preciso de um psiquiatra, não de um livro de auto ajuda.
Uma amiga, justificando essa "fé", chegou a questionar como um analgésico saberia onde iria atuar, em caso de dor. Como assim? O analgésico pensa? Foi a forma dela me convencer que, na verdade, o fato de meu cérebro já saber que eu estava tomando um remédio para dor, iria trabalhar na tentativa de acabar com aquela dor. Isso porque alguns autores escreveram que os placebos, usados em experiências medicamentosas, teriam o mesmo efeito que a droga em si. Então tá, ninguém precisa mais tomar remédio, basta mentalizar que os milagres acontecerão. Se você está com desnutrição e deficiência de vitamina B12, mentalize que ela será produzida naturalmente no seu organismo. Melhor, ela vai cair do céu e você nem precisa comer nada de origem animal para repor esse estoque (a vitamina B12 somente é encontrada em alimentos de origem animal, como carne, leite e ovos).
Outra amiga, ao ouvir minhas queixas, veio com a seguinte frase: eu acho que a sua energia não está legal, e você precisa fazer alguma coisa para melhorá-la. Tá, minha energia não está legal, então tenho que procurar a Light, e não o médico. Já outra insiste em me levar a um lugar pra desobstruir meus caminhos. Nesse caso teria que abrir mão da medicina e buscar um pai de santo...
Engraçado, todas essas amigas têm problemas de saúde, de trabalho, de dinheiro e de relacionamentos, não necessariamente nessa ordem, mas já que elas fazem tanto uso dessa fé que tanto pregam, será que seus problemas seriam menos graves que o meu? Porque eu preciso me convencer da mesma coisa em que elas acreditam? E porque elas AINDA têm problemas???
Por isso a analogia com a história do café. É mais fácil o ser humano se convencer de algo se tiver mais alguém com ele. É mais confortável uma pessoa que não goste de café, bebê-lo em companhia de outra, porque dessa forma uma conforta a outra e assim caminha a humanidade.
15 de novembro de 2009
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O que seria do vermelho se todos gostassem do amarelo? Concordo com vc que a questão não se trata de fé demais ou fé de menos, nem que todas as doenças são fabricadas pelo nosso cérebro. A forma como a gente lida com as doenças e agravos ao nosso corpo é que é intermediado pelo cérebro. Se vc estiver bem de cabeça, sua imunidade tende a estar em alta, entretanto, nada é verdade absoluta, nem nada é definitivo. Só a morte é que chega para todos e para algumas crenças algo de vc vai com quem morre e algo de quem partiu fica com vc. Esse é o grande mistério da fé! Tentar relaxar e procurar viver em harmonia é qualidade de vida e significa mais saúde mental! Boa sorte com os seus tratamentos e take it easy, my friend! Paz-ciência!
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