1 de fevereiro de 2010

A educação e a distribuição de renda

Após as festas de fim de ano, andei conversando com uma amiga que estava pensando friamente em votar na Dilma. Tão decepcionada com o Lula como a maioria de nós, mas com absoluta certeza de que rolou, afinal, a distribuição de renda. Fui obrigada a concordar com ela, por pior que considere sua opção eleitoral. Vejo sim, pessoas que antes nada tinham, conseguir adquirir bens mesmo naquelas absurdas prestações de cartão de crédito. Nesse verão quase mortal por exemplo, acabaram-se os estoques de ar condicionado nas lojas.E eu lembro que pouco tempo atrás, um assalariado de classe C ou D jamais poderia ter um aparelho desses em casa. Passo por algumas comunidades a caminho do trabalho e vejo lá um monte de buracos nas paredes das casas, que antes estavam abertos e agora, já devidamente ocupados pelos distintos aparelhos de refrigeração.
Tudo bem que boa parte dessa galera tem um gato de luz, como também tem os gatos de TV a cabo e, consequentemente, não são incomodados pela conta que certamente eles não teriam como pagar.
Mas e a classe média? Quando eu era adolescente, era bacana ser da classe média. Eu tinha telefone, TV a cores, viajava pra caramba, morava na zona sul e estudava em colégio particular mas não tinha ar condicionado... De lá pra cá, a classe média perdeu seu poder aquisitivo. Quem não tinha seu ar condicionado, não teve mais. A medida que os anos iam passando, já não dava pra viajar tanto, as escolas públicas ficaram lotadas e ficou sofrível pagar um aluguel no Flamengo.
Muitos dos que pertenciam à classe média (que um dia já foi B), passaram pra classe C ou D, e assim permaneceram por muitos anos até o início dessa suposta distribuição de renda do governo Lula. A eles juntaram-se os que já nasceram na base da pirãmide, os que vieram de fora, os miseráveis, enfim. Hoje essas pessoas podem ter um celular, uma Tv de plasma, um computador e tudo o mais que alimenta os sonhos de consumo.
Claro que tudo não passa de um grande paradoxo, pois na verdade essa história toda tem a ver com a discrepância entre o consumismo e a educação. Eu e minha amiga chegamos à conclusão que houve sim, um investimento nessa distribuição de renda, mas ninguém investiu na educação. Ao que ela me deu um exemplo claríssimo quando contou sobre sua viagem de cruzeiro pela CVC, um pacote de reveillon em alto mar. O navio tinha quatorze andares, isso mesmo, 14! E as cabines variavam seu preço pelo andar. Lá em cima, as mais caras com varanda, suíte e tudo mais. A medida que se descia os andares, mais barato ficava e acho até que tinha cabine sem janela, aquelas na altura do casco do navio e abaixo do nível do mar.
Pois bem. A galera que finalmente pode pagar por esse cruzeiro, mesmo numa cabine 3x4, era a mesma que criava os maiores constrangimentos na viagem. Jogavam as latinhas de cerveja no mar, tiravam as espreguiçadeiras de lugar o tempo todo, falavam alto, fumavam em locais proibidos e tudo isso embalado pelos mais altos decibéis de axé, funk e pagode que saía dos alto falantes do navio. O tempo todo.
Esse é apenas um fato. Tenho um vizinho que se endividou para comprar um equipamento de som para o carro (que já estava, diga-se de passagem, caindo aos pedaços). E somente pra parar o maldito automóvel no trailler da esquina nos finais de semana e ligar aquela merda no último volume enquanto toma cerveja. Tudo bem, ele conseguiu comprar seu som...
Não sou contra a distribuição de renda, ao contrário. Nem concordo com os conservadores preconceituosos que dizem que não se deve dar nozes a quem não tem dentes. Mas que esse país precisa urgentemente de um ENORME investimento em educação, não tenho dúvidas. E é por isso que não penso em votar na Dilma, porque não acredito que ela terá esse interesse. Afinal, ela não precisa parcelar nada em seu cartão de crédito e quando viaja, o navio ou o jatinho são particulares.

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