26 de agosto de 2009

Sobre a fome

Ferdinand Dimadura é um diretor de cinema que fez um curta chamado Chicken a la Carte, premiado em 2006, se eu não me engano. O filme fala da fome durante o processo de globalização. É forte, é triste e, infelizmente, verdadeiro. Recebi o link deste filme e enquanto o assistia, lembrei que essa é uma realidade mundial e que não acontece somente agora. Vira e mexe encontramos a fome em todos os seus aspectos e em tantos países onde ela possa estar, portanto, para mim essa história não é nenhuma novidade.
Em 1899 mudei para um apartamento no Bairro de Fátima, centro do Rio. Perto da minha casa ficava o supermercado Sendas e, um dia quando cheguei à noite, vi pela primeira vez uma cena que nunca gostaria de ter visto e que nunca esqueci. Várias pessoas, famílias, moradores de rua, talvez uns sim e outros não, ficavam nos fundos do supermercado esperando os restos que seriam depositados em latas e recolhidos pelo caminhão de lixo. O procedimento de levar as latas até o lado de fora da Sendas acontecia sempre próximo ao horário que o caminhão passava. Daí, era uma verdadeira ginana, pois as pessoas corriam e vasculhavam todas aquelas latas em busca de algum alimento que pudessem aproveitar. Dava até briga! Crianças corriam atrás do caminhão, penduravam-se nas suas ferragens tentando alcançar alguma coisa que os lixeiros já haviam recolhido.
Foi depois desse dia que passei a observar melhor essa tentativa quase insana de saciar a fome, e para minha surpresa, descobri pessoas vasculhando latas de lixo em vários pontos da cidade. Esse hábito, pelo que eu sei, permanece até hoje.
A globalização é uma coisa recente, mas o filme, no meu entender, não é atual. A fome é atual, e na verdade, nunca deixou de existir. Basta assistir ao maravilhoso Ilha das Flores, de Jorge Furtado que, em 1989, fez um retrato fantástico da fome através da ótica do consumo.

Chicken a la Carte


Ilha das Flores

Nenhum comentário:

Postar um comentário