O post do trem
Em toda a minha vida, acredito que ontem foi a 5º ou 6º vez que peguei um trem. Nunca fiz uso normalmente desse transporte porque nunca me foi necessário, mas ontem, para o local de destino a que eu ia, precisei fazê-lo.
A idéia era pegar um em Bonsucesso para descer na Central e de lá, outro para descer na estação do Engenho de Dentro, meu destino, já que não existia uma linha direta. Claro que aproveitei a companhia da minha colega de trabalho, pois sozinha confesso que ficaria enrolada. Sou adepta da máxima "quem tem boca vai à Roma", mas o fato de ir simplesmente ao Engenho de Dentro já me deu preguiça, por isso achei melhor uma acompanhante para não precisar perguntar nada a ninguém.
Bom, quando o trem chegou pude ter noção do que era esse transporte aqui no Rio. Apesar da composição estar vazia (sentamos juntas), seu estado não era lá muito agradável. Uma iluminação precária, paredes sujas e sem ar condicionado. Até aí, tudo bem, o metrô também funciona com alguns vagões sem ar de vez em quando, normal. Mas o trem estava indo tão devagar quanto o trânsito que eu via pela janela. Só que o trânsito estava lento mesmo por causa do engarrafamento natural da hora do rush. Será que havia algum engarrafamento de trens?
Então chegamos à Central, onde minha amiga tentava descobrir desesperadamente se nossa composição sairia de lá mesmo direto para nosso destino. Se assim fosse, não precisaríamos descer e pegar outra, mas como saber? O aviso era dado no alto falante e eu não escutava nada, já que a tranquilidade inicial do trem vazio havia acabado. Assim que as portas se abriram veio a galera correndo, aos emprurrões para disputar um banco ou um espaço em pé. Até aí, também nada de mais. Já andei de Metrô bem mais cheio e bem mais espremida, caso não estivesse sentada. Mas o falatório foi ampliado por vendedores que surgiram do nada vendendo balas, canetas, além de um sujeito que fazia um marketing danado de uma revistinha de tabuada com lições de matemática. "Para quem vai prestar concurso para a Polícia Federal, Polícia Rodoviária, Banco do Brasil, Banco Central, Gari... Só R$1,00 na minha mão! Minha amiga contou que alguns vendem queijo, yogurtes, sanduiches e sei lá o que mais. Tudo acontece enquanto o trem está ali esperando para partir.
Tivemos sorte, finalmente descobrimos que não precisaríamos trocar de composição. Sorte maior, no meu entender, é que algumas vezes as pessoas já estão acomodadas, esperando a partida e o auto falante avisa que aquele trem não vai pra onde todos esperavam. Então todo mundo sai correndo para pegar outro que geralmente fica na plataforma mais longe possível, e já está lotado! Essa ansiedade me perseguiu até que os ambulantes se foram, as portas se fecharam e partimos. Eu ficaria na próxima estação que, segundo ela, seria rapidinho, mas não foi. O trânsito da linha férrea devia estar mesmo engarrafado, pois aquele trem andava e parava, andava e parava. Sem ar condicionado.
Achei que nada mais iria me surprender, porém alguém no vagão avisou: "Olha a igreja!" E vieram os irmãos, animadíssimos, cantando músicas evangélicas acompanhados por um pandeiro pra lá de desentrosado. Era uma música e um sermão, uma música e um testemunho, uma música e uma história. "Eu costumava sair sexta feira pra ir ao samba, beber cerveja. Achava que aquilo me fazia alegre, mas descobri Jesus, descobri que não preciso nem do samba nem da cerveja, porque agora a alegria não vem disso, vem de dentro de mim!"
E tome musiquinha com pandeiro. Mesmo quem não era da religião cantava, já havia decorado tudo. Aquilo rolava todos os dias, no mesmo vagão, o segundo, na ida e na volta.
Como eu não pretendia voltar, despedi-me da minha amiga e desci no Engenho de Dentro. Ela continuou e hoje contou que, pra meu ainda desespero, depois que eu desci faltou energia e o trem ficou lá no meio do caminho, todo escuro e paradão. O povo suava, esperava, o tempo passava, mas a musica da igreja ainda rolava. Tive pena, mas fazer o que? É assim que funciona...
7 de agosto de 2009
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