25 de julho de 2009

O caranguejo, a rosca, o aipim e afins

Esse texto é sobre os vendedores de rua, os ambulantes, mesmo, aqueles que perambulam pela cidade vendendo seus produtos. É certo que contribuem, e muito, com a poluição sonora, mas alguns, sem dúvida, são extremamente exóticos. Nem tanto pelo visual, mas pela voz e a maneira como divulgam aquilo que vendem.
Lembro das primeiras vezes que ouvi o cara da pamonha. Era um carro de som, uma Brasília, acho, e aquele texto da "pamonha fresquinha e quentinha" enchia meus ouvidos de curiosidade, porque eu costumava ouví-lo somente perto da minha casa e, de repente, o cara se multiplicou pela cidade. Uma vez eu estava ao telefone com uma amiga e ele passou na minha rua, mas ao mesmo tempo eu o ouvia pela linha lá perto da casa dela!
Antes, só me lembro dele. Depois surgiram outros. Hoje tem o carro do sorvete, do queijo, do camarão e das mantas (que vende mantas para sofá, redes, jogos de copa, passadeiras e sei lá o que mais). O problema é que essa mania de carro de som tornou-se insuportável, e ficou pior ainda quando os políticos, em época de eleição, resolveram fazer uso esse recurso. E também tem o carro que faz a propaganda do supermercado, o carro que divulga uma festa junina na pracinha, enfim. Talvez isso aconteça somente no subúrbio pelo fato de as ruas não terem tanto trânsito, permitindo sua locomoção lenta, com tempo mais do que suficiente para as pessoas poderem ouvir sua "pregação".
Bom, mas deixando os vendedores automotivos, os que vendem a pé são mais interessantes. Quando eu morava na Buarque de Macedo, no Flamengo, escutava um sujeito anunciando algo que eu não fazia idéia do que era. Ele gritava "Ó o aanrreeero! Ó o aanrreeero aêêê!" Eu só descobri quando passei por ele na rua, e ele vendia caranguejo. Muitos caranguejos vivos e amarrados nas duas pontas de um cabo de vassoura que ele apoiava sobre os ombros. Eu o achei tão inusitado, vendendo aquilo numa rua que não era no subúrbio, que até precisei registrá-lo num desenho.
Mas o cara da rosca tem um dom. Minha amiga, moradora do Catete, me falou sobre ele, e um dia eu não só o ouvi como o vi. Carregava um tapeware gigante não sei como, e sua voz era tão ou mais possante que a do caranguejo: "Óia a rrrossssssssssca! Quem vai querer a minha rrrosssssssca?" Pode-se estar no 12º andar que aquela frase é perfeitamente compreendida. Muita gente comprava, visto que além do tapeware enorme ele também levava sacolas, imagino, com roscas suficientes para abastecer o bairro todo e não precisar voltar em casa para repor o estoque por aquele dia.
Agora, aqui onde moro atualmente, tem a mulher do aipim, que também vende couve, cenoura, batata e outros legumes, todos picados. Mas o aipim é o seu carro chefe, muito bem entoado numa voz ultra-possante: "Olha o aipiiiiiiiiiim!" Ela até cita o resto das coisas que vende, mas o aipim é imbatível! Juro que não sei como ela aguenta, andando de cima para baixo, carregada de sacolas pesadas e às vezes debaixo de um sol escaldante sem perder a força da voz. E que voz!
A mim, essas pessoas não incomodam. Eu as vejo como guerreiras, trabalhando no seu sol a sol, artistas da sobrevivência, pois quem sabe essa mulher do aipim, em outra oportunidade que lhe fosse oferecida, não seria uma soprano afinadíssima a cantar numa ópera?
Eu prefiro ouvir dez mulheres dessa trabalhando do que ter que aturar os idiotas que colocam um som altíssimo nos seus carros, param em frente ao seu prédio, saem do carro mas deixam o som ligado no máximo - geralmente um funk - e ainda conseguem conversar.
Quer poluição sonora pior do que essa?

Nenhum comentário:

Postar um comentário