Esse texto poderia ser uma crônica, talvez um conto ou até um poema, mas é uma simples narrativa baseada em fatos. Fatos que eu vinha registrando até pouco tempo em intervalos regulares da minha vida e em determinadas situações. Numa delas, a coisa fluiu de forma a me permitir interpretá-la e decodificá-la em palavras, de forma que se tornasse compreensível a quem o lesse.
Surgiu um embate quando uma mulher assumiu determinado espaço num grupo de trabalho. isso porque ela veio de fora, não fazia parte antes daquele grupo, e porque era "diferente" dos demais. Logo, passou a ser discriminada. Lhe faziam caras feias, falavam mal dela pelas suas costas e todos a achavam insuportável. Perguntei o porquê de tanta rejeição, e a resposta era quase unânime: ela é esnobe!
Claro que houve outros adjetivos semelhantes como "metida", "cheia de si" ou "dona da cocada". Mas isso não me esclarecia muita coisa, na verdade, absolutamente nada.
Algo que ela tenha feito errado? Não, diziam-me. Alguma decisão que ela tomou foi absurda? Também não. Alguma consequência ruim para seus atos? Nenhuma. Então, porque tanta hostilidade? Ah, ela é esnobe. Simplesmente, esnobe.
Daí passei a prestar mais atenção na dita cuja, tentando descobrir o foco do suposto esnobismo, e cheguei a uma conclusão muito básica. Era não era esnobe, era elegante.
Elegância não tem a ver somente com aparência. Não se trata apenas de vestir roupas chiques, ter boas maneiras ou usar palavras sofisticadas. Elegância pode ser tudo isso se a pessoa também tiver determinada postura. Ninguém precisa ter muito dinheiro pra ser elegante, basta o bom senso e o velho apoio da educação.
No caso citado, a elegância da mulher contrastava com a falta de elegância dos demais, de uma forma geral. As pessoas daquele grupo não tinham educação, e lhes faltava bom senso.
Pois enquanto eles falavam alto, quase gritando uns com os outros, ela falava baixinho, num tom de voz suave e delicado. Quando eles faziam alguma coisa errado, punham a culpa uns nos outros, ou sempre buscavam uma justificativa para seus erros. Ela não. Ela admitia seu erro, assumia sua ignorância no assunto e buscava uma forma de aprender a não errar novamente. Corajosamente humilde.
Ao contrário do grupo, ela também não fazia uso da falsidade, sorrindo quando não gostava de alguma coisa. Diferente dos demais, ela sabia respeitar limitações. Enquanto a maioria usava palavras vulgares para algo ruim ou mal feito, ela usava adjetivos mais suaves e coerentes, jamais um palavrão.
Eles costumavam conversar sobre o Big Brother, novelas, até sacanagem, e ela falava sobre cinema, livros e música.
Ela não gosta de funk!" Ah, mas ela escuta Bach... "o que é Bach? Algum batidão?
A coisa era assim, e me trouxe uma lição. Pessoas grosseiras não gostam de pessoas elegantes porque não se identificam com elas. E não se identificam, porque desconhecem o que é ser elegante.
Pessoas grosseiras medem as outras pelo que as outras têm, ou aparentam ter. E se estas (que têm) forem tão grosseiras quanto elas, podem até ser legais. Mas, se tiverem um pouco de educação e bom senso, pronto, são esnobes.
16 de junho de 2010
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Adorei o texto. Muito bem escrito! Parabéns!
ResponderExcluirme identifiquei um pouco com a situação dela, mas eu por parte sou um pouco arrogante sim, então não é só culpa da falta de flexibilidade da sociedade com a anormalidade, parte da culpa é minha também...
ResponderExcluirmas meio que já estou aprendendo a me "igualar" com o resto apenas para me socializar superficialmente, mais do que isso, seria com outros que possuem os mesmos gostos...